Título: Grampo reforça acusação a ministro
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A5
A edição deste final de semana da revista Veja traz a público novos fatos que reforçam as acusações de corrupção feitas por Rogério Buratti ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A publicação diz ter tido acesso a documentos, e-mails e grampos telefônicos colhidos pela Justiça em quase dois anos de investigação e que envolvem Palocci já ministro. Em um desses diálogos gravados, em 26 de julho de 2004, Buratti conversa com um funcionário da Leão Leão, empresa sediada em Ribeirão Preto, especializada em serviços de construção e limpeza pública, e acerta um encontro com o ministro Palocci.
''Sobre o negócio de Brasília eu conversei com ele. E ele vai estar em Ribeirão amanhã'', diz Buratti ao funcionário. Segundo a matéria da revista, no dia seguinte Palocci participou de um seminário na cidade.
Integrantes desta mesma máfia se utilizavam de sua relação com Buratti para resolver problemas usando a estrutura do Ministério da Fazenda. Em um dos grampos do Ministério Público de São Paulo, um empresário de Ribeirão Preto, ainda não identificado, pede a interferência de Buratti para facilitar a obtenção de uma certidão negativa de débito para sua empresa participar de uma licitação na cidade. O empresário solicita ao ex-assessor de Palocci que interceda junto ao órgão e à Procuradoria-Geral da Fazenda para que o documento saia.
Em outra situação, um e-mail de Juscelino Dourado, atual chefe de gabinete de Palocci pede, em nome do ''chefe'', ajuda de Buratti para comprar um aparelho de espionagem telefônica. Ao delegado e aos promotores Buratti reconheceu que as expressões ''ele'', ''mestre'' e ''chefe'', utilizadas nas conversas gravadas se referem ao ministro Palocci
Os grampos podem se tornar um material explosivo se cruzados com as declarações feitas por Buratti nesta semana. Em seu depoimento, ele acusa Palocci de receber pagamento de um mensalão de R$ 50 mil durante seu mandato de prefeito de Ribeirão Preto, entre 2000 e 2002. A quantia, proveniente da máfia de empresas que fraudavam licitações públicas de coleta de lixo em prefeituras de São Paulo e Minas Gerais, seria recebida por Ralf Barquete, na ocasião secretário de Finanças da cidade. Este, por sua vez, ''com a autorização de Palocci'', repassava o dinheiro a Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
Barquete morreu em julho de 2003, vítima de câncer. O esquema, no entanto, não teria terminado com a saída de Palocci da prefeitura. De acordo com Rogério Buratti, o vice de Palocci em Ribeirão Preto herdou o esquema quando o titular assumiu o Ministério da Fazenda, em 2003.
Buratti também diz que os donos de casas de bingo fizeram contribuições ilegais à campanha presidencial de Lula, em 2002.