Título: TCU apura saques com cartões do Planalto
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A6
Saques de grandes quantias em dinheiro feitos com os cartões de crédito corporativos do governo federal - usados para pagar despesas do Gabinete da Presidência da República, da Granja do Torto e dos ministros que assessoram o presidente - vêm sendo investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e podem levar à quebra do sigilo dos cartões nos próximos dias, segundo matéria publicada pela Isto é Dinheiro. A reportagem revela, a partir de informações obtidas em documentos sigilosos, que as faturas dos cartões usados pelo Palácio do Planalto cresceram de cerca de R$ 5,5 milhões entre janeiro e agosto de 2004 para R$ 10,2 milhões do início deste ano até o último dia 18, dos quais R$ 6,8 milhões teriam sido sacados em dinheiro vivo. Faturas no valor de R$ 3,2 milhões referentes a despesas feitas em 2004 apontariam retiradas de R$ 2,2 milhões em espécie. O procedimento levantou suspeitas entre o ministros do TCU já que os cartões foram adotados justamente para dar mais transparência aos gastos com estadia, alimentação e transporte das autoridades, que não precisam ser feitos em dinheiro em sua maioria.
Dos R$ 10,2 milhões em despesas deste ano, aproximadamente R$ 5,6 milhões foram gastos pelo gabinete do presidente, segundo números do Sistema de Acompanhamento Financeiro da Administração Federal (Siafi).
Os cartões eram usados por 53 funcionários do governo, chamados de ''ecônomos'' no ano passado, número para 48 em 2005. Os ecônomos, Clever Pereira Fialho e Maria Emília Matheus Évora, que costumam acompanhar Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia, foram os que mais gastaram no período de 2004 estudado, segundo a denúncia. Clever teria somado despesas de mais de R$ 1 milhão e R$ 226,9 mil em saques em dinheiro. Já Maria Emília teria gasto R$ 441,5 mil, com saques no valor de R$ 198,1 mil. O pedido de devassa nas contas foi feito no dia 14 de julho pelo procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no TCU, e deve ser analisado pelos sete ministros do órgão em breve. Alguns deles, como Ubiratan Aguiar, relator do processo, e Marcos Vilaça já manifestaram surpresa com os números. Na quinta-feira, Renan Calheiros, presidente do Senado, enviou requerimento do PSDB ao Planalto pedindo explicações sobre os gastos.
Desde o início do governo Lula, as despesas com os cartões sem prestação de contas já somam R$ 18,7 milhões. Os cartões foram adotados durante o governo Fernando Henrique, período no qual as faturas eram enviadas ao TCU. O governo Lula passou a tratá-las como assunto sigiloso deixando de enviá-las, além de ter retirado do Siafi informações referentes aos gastos.