Título: O homem-bomba das comissões
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A7

Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e parlamentares da CPI dos Correios acreditam que o banqueiro Daniel Dantas - dono do Grupo Opportunity - pode implodir alguns partidos políticos, envolvendo também o PFL e o PSDB com a corrupção que assola o PT. O possível envolvimento de outras siglas seria um dos principais motivos para a não convocação do banqueiro à CPI dos Correios, na avaliação do deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), autor do requerimento:

- O senhor Daniel Dantas é da intimidade do PSDB e do PFL. Nesse esquema de corrupção, o PT está envolvido, mas a corrupção não nasceu com o PT. O esquema é o mesmo de antes. Talvez a diferença seja a intensidade. PFL e PSDB não estão livres disso.

O parlamentar considera ''inexplicável'' a CPI dos Correios não ter chamado Dantas para depor. Pompeo acredita que o banqueiro daria explicações sobre o envolvimento com Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. As empresas Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom - do Grupo Opportunity - despejaram R$ 127 milhões nas contas das empresas de Valério nos últimos cinco anos.

- Não tenho dúvidas de que Dantas é dez vezes maior que o Valério, quem fazia a relação com o PT. Mas quem alimentava ele era o Daniel Dantas.

As empresas Telemig Celular e Brasil Telecom foram usadas por Dantas para pagar o esquema criminoso de espionagem da Kroll Associates, que quebrou sigilo bancário, fiscal e telefônico para espionar desafetos do Opportunity. Dantas foi indiciado por formação de quadrilha e é réu em processo na Justiça Federal.

No esquema do mensalão, a viagem de Valério a Portugal - para supostamente buscar dinheiro para partidos - envolveu interesses da Telemig de Dantas, segundo Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB.

A documentação apreendida pela Polícia Federal mostra que Dantas pode ter colhido informações preciosas no núcleo político do governo. Um e-mail da Kroll detalha a viagem do diretor Eduardo Sampaio à China, com ''a delegação do presidente Lula'' em 2004, época da espionagem. Dantas conhece Sampaio desde 2000.

Outro parlamentar que acredita na infiltração de Dantas no governo, desde a privatização, é o senador Sibá Machado (PT-AC), suplente da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Para ele, há uma preocupação entre ''muitos partidos'' que Dantas possa realmente ser o homem-bomba da CPI.

- Ele pode esclarecer a grande rede de corrupção que envolve empresas, pessoas dentro desse governo do PT. É a pedra angular de um enigma que precisamos desvendar.

Segundo um parlamentar, pessoas próximas de Dantas estariam abastecendo Roberto Jefferson com informações sobre fundos de pensão, para deflagrar nova crise nos próximos dias. Está claro para o governo que uma parcela do PT teria se aproximado do banqueiro para um acordo pelo controle da Brasil Telecom.

- Pelas informações que temos, liberaram dinheiro para o acordo, não obtiveram e decidiram bombardear - diz um assessor do presidente Lula.

Na agenda de Valério constam seis referências às empresas e sócios de Dantas, só em 2003, quando o mensalão teria começado a ser pago ao PT. Teve reunião do sócio e ex-cunhado de Dantas, o banqueiro Carlos Rodenburg com Delúbio Soares e Valério, que freqüentava o Opportunity. Rodenburg contratou o escritório do espião israelense Avner Shemesh para investigar desafetos de Dantas.

O potencial de Dantas é temido por parlamentares porque está na PF uma cópia do disco-rígido do computador do Opportunity, onde constariam as transações financeiras internacionais e as operações pessoais do banqueiro. A mesma Justiça Federal paulista que autorizou a busca não autorizou a análise dos dados. Centenas de políticos e empresários remeteram altas quantias para o exterior pelo mesmo esquema de lavagem de dinheiro.

O deputado José Mentor (PT-SP), que engavetou a CPI do Banestado, onde estava a documentação que poderia comprometer a dupla, aparece três vezes na agenda de Valério. Na CPI do Mensalão, já desapareceram notas fraudulentas da empresa de Valério, em nome das empresas de Dantas.