Título: José Dirceu mostra força e se impõe dentro PT
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A8

Em conversas com interlocutores na sexta-feira, o deputado José Dirceu (PT-SP) descartou totalmente a hipótese de deixar a chapa do Campo Majoritário que vai disputar as eleições diretas do PT em 18 de setembro, colocando um ponto final na discussão travada nos últimos dias no seio do partido. Dirceu foi taxativo ao comentar o assunto com petistas, sem deixar de transmitir sua mágoa com o atual presidente do PT, Tarso Genro, que, em sua avaliação, conduziu mal a questão interna ao expor publicamente a negociação. - Não se faz política ditando regras. O Campo Majoritário não acabou e não existe a menor hipótese de eu deixar a chapa - disse Dirceu numa conversa com o deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF) na sexta-feira.

A decisão deverá ser anunciada de maneira oficial amanhã. Nas conversas, Dirceu repetiu que não há nada que desabone sua conduta como homem público e garantiu estar mais vivo do que nunca para lutar pelo seu mandato de deputado federal:

- Não sou criminoso. Nunca fui condenado na vida pública e não tenho vergonha do meu passado e presente político - garantiu.

Confirmada a decisão de Dirceu, a tendência é que Tarso renuncie a sua candidatura à presidência nas eleições de setembro. Outra possibilidade é a de Tarso e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), liderarem uma defecção do Campo Majoritário - corrente que hoje detém cerca de 70% dos postos de comando no partido - lançando chapa própria, o que acentuaria o racha no PT. A hipótese foi aventada em conversas mantidas entre Tarso e petistas durante a semana.

- O grupo anterior se esgotou com a crise e isso precisa ficar claro - afirmou Tarso Genro.

Com as bênçãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os apelos para que Dirceu retirasse seu nome da chapa do Campo Majoritário se intensificaram na última semana. Procuraram o ex-ministro da Casa Civil com o intuito de demovê-lo a integrar a chapa, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini (SP), o ex-ministro da Saúde Humberto Costa e o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda.

Lula considera que Dirceu ainda não conseguiu ser convincente em suas explicações sobre o suposto mensalão e empréstimos bancários intermediados por Marcos Valério. Por isso, seria mais conveniente que saísse de cena durante o processo de reconstrução do PT.

- É claro que ninguém vai jogá-lo aos leões. Mas o (deputado José) Dirceu tem que entender que é mais prudente um distanciamento agora - aconselhou um auxiliar do presidente Lula.

Na última quarta-feira, durante encontro na residência do ex-ministro, Tarso Genro também tentou convencer Dirceu da importância de sua saída da chapa para a renovação do partido. Na avaliação de Tarso, a construção de uma nova imagem pública do PT passaria pela retirada dos nomes dos ex-dirigentes envolvidos em escândalo. Mas Dirceu não teria gostado da abordagem do companheiro.

A queda-de-braço no PT foi deflagrada após o atual presidente do partido Tarso Genro perceber que, embora desgastado pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que seria o principal mentor do mensalão, Dirceu continua exercendo forte influência na legenda. No início do mês, o deputado José Dirceu se articulou para assegurar o seu direito e o dos demais parlamentares petistas supostamente envolvidos nos casos do caixa dois de terem a legenda do PT garantida para 2006 caso decidissem pela renúncia do mandato. A interferência do ex-ministro da Casa Civil no diretório nacional fez com que Dirceu e Tarso entrassem em rota de colisão. Antes do encontro, o atual presidente do PT defendeu publicamente o contrário: quem renunciasse não poderia concorrer pelo PT nas próximas eleições.