Título: Juros estratosféricos: até quando?
Autor: Antônio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, Outras Opiniões, p. A11

É claro que a blindagem da economia brasileira não é infinita. Até aqui, tem se comportado bem, a despeito das inúmeras adversidades que cercam as atividades produtivas.

O Brasil continua apresentando recordes de exportação. A agricultura, a despeito dos problemas climáticos do sul do país, continua garantindo uma oferta abundante e uma estabilidade de preços dos alimentos. Os demais setores do mercado interno estão mornos com exceção dos que dependem e são regados pelo crédito consignado à pessoa física que se expandiu bastante.

É incrível que o bom desempenho da economia brasileira ocorra no meio dos juros reais mais altos do mundo, taxa de câmbio deprimida, tributos altíssimos e forte protecionismo dos países desenvolvidos. Com isso, os produtores brasileiros mostram mais uma vez a sua grande capacidade de sobreviver em ambientes hostis. Afinal, já passamos por hiper-inflação, recessão, desvalorização, ataques especulativos, trocas de moedas e tantas outras aventuras que foram superadas com garra.

Por isso, não é de hoje que a economia brasileira é blindada contra agressões externas e internas. Neste momento, no âmbito internacional, há um aquecimento da demanda e dos preços e, no âmbito interno, há uma baixa taxa de inflação. São dados positivos. Poderemos contar com isso por muito tempo?

No campo internacional, demanda e preços começam a arrefecer para vários produtos. Precisamos ficar atentos. No campo interno, os juros estratosféricos explicam, em grande parte, a depressão do câmbio e a baixa inflação. Na verdade estamos outra vez blindados na base de uma âncora - a cambial.

Até janeiro de 1999 o câmbio era baixo por força do regime de taxa fixa. Hoje, é baixo por força de juros reais de 13% que atraem especuladores do mundo inteiro que para cá trazem seus dólares com o fim de ganhar depressa.

Uma blindagem baseada nesse artificialismo não pode garantir um fluxo caudaloso de exportações por muito tempo mesmo porque as importações têm encarecido bastante devido, principalmente, ao alto preço do petróleo e dos bens não duráveis.

A despeito dos grandes volumes exportados, a lucratividade dos exportadores já começa a ficar comprometida, o que é grave para os investimentos. Em outras palavras, deprimir o dólar via fixação de câmbio ou elevação de juros não é um bom negócio para um país que precisa gerar divisas e empregos em grande quantidade.

Para arrematar, não se vê nada de concreto na redução do protecionismo externo. É verdade que aqui e ali o Brasil tem ganho demandas junto à OMC. No entanto, para cada vitória, inventam-se novas proteções via tarifas e outros controles (sanitário, cotas etc.).

Para continuarmos blindados precisamos de muita ação externa e muita providência interna, a começar pela redução dos juros. Se nada ocorrer nessas áreas, não precisaremos de crise política para quebrar a blindagem que até aqui funcionou.

Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos no JB