Título: O compromisso com a verdade
Autor: Eduardo Suplicy
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, Outras Opiniões, p. A11
A história política do Brasil mostra que o país já passou por várias crises que afetaram os governos e os governantes. Vivemos um momento político delicado que, acima de tudo, precisa de transparência e verdade para a total superação dos episódios e relatos de corrupção que têm manchado o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e principalmente o Partido dos Trabalhadores.
Esta semana o ex-presidente e senador José Sarney, da tribuna do Senado Federal, fez uma reflexão sobre as diversas crises que o país viveu desde o suicídio de Getúlio Vargas até os dias de hoje. Foi com muita firmeza que reforçou a necessidade de se apurar, com profundidade, os fatos e episódios que vêm se desenrolando a partir das denúncias do deputado Roberto Jefferson, e que dizem respeito ao próprio Congresso Nacional. Como todos os senadores, Sarney comentou o discurso do presidente Lula à nação na semana anterior.
Seguindo os preceitos e a história do Partido dos Trabalhadores que, desde a sua fundação, primou pela busca da verdade, da democracia e de uma sociedade mais humana e mais justa, acredito que a maior contribuição que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode dar à nação, aos brasileiros, é, como ele próprio tem reiterado, o seu compromisso com a verdade, com a apuração dos fatos e a punição dos culpados, sejam eles quais forem.
Na última quarta-feira, em Vitória da Conquista, na Bahia, o presidente mais uma vez falou da sua determinação em contribuir para que haja a apuração completa dos fatos e ressaltou seu interesse em fazê-lo. O presidente Lula afirmou que está de consciência limpa, ainda que haja o desejo de segmentos políticos de tentar implicar o Palácio do Planalto nos episódios que preocupam a toda nação.
Através de carta, sugeri ao presidente Lula que tome uma iniciativa inédita. Que realize uma visita ao Congresso Nacional, com a disposição de dialogar com os deputados e os senadores, no próprio plenário. Poderia o presidente conversar previamente com o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, e com o deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, para combinar o procedimento.
Um possível caminho, depois da fala do chefe da nação, seria se dar um tempo breve aos líderes para fazerem observações e perguntas, que então seriam respondidas pelo presidente.
É certo que no regime presidencialista, diferentemente do parlamentarista, não costuma acontecer o diálogo do chefe do governo com os representantes do povo no parlamento. Na Constituição brasileira, é prevista a presença no plenário do Congresso Nacional do presidente por ocasião de sua posse.
Ele também pode vir por ocasião da abertura dos trabalhos legislativos, no dia 15 de fevereiro de cada ano, como aconteceu em 2003, para expor a sua mensagem sobre os a situação do país e seus planos de governo. Nada impede que espontaneamente o presidente possa vir ao Congresso e tenha um diálogo público com os senadores e deputados. Essa iniciativa preencheria a expectativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que através de dom Geraldo Magella Agnelo, no último dia 18, disse: ''Nós temos o desejo de que ele (Lula) faça uma verdadeira apresentação da situação do país e também sobre a crise política. Que ele faça outras intervenções diretas. O povo quer saber e ele, como primeiro mandatário, deve responder.''
Algumas pessoas poderiam considerar um tanto arriscada a presença do presidente Lula no Congresso. Mas tenho a convicção, inclusive embasada em diálogo sobre a sugestão com diversos líderes da oposição, que com certeza todos tratariam o presidente de maneira civilizada e respeitosa. Com certeza a presença do presidente Lula no Congresso, no momento que ele avaliar mais conveniente, trará uma contribuição enorme para desanuviar o grave ambiente que hoje preocupa a toda a nação.