Título: Xerife do combate à lavagem, Coaf é questionado
Autor: Fausto Macedo
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, Nacional, p. A14

O xerife do combate à lavagem de dinheiro no País também virou alvo na crise política. Criado em 1998 para funcionar como uma central de inteligência na detecção de ilícitos financeiros, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) teve a sigla popularizada no escândalo do mensalão, mas passou a ter o seu desempenho questionado. Na CPI dos Correios, ele é criticado pela descoberta tardia das transações bancárias suspeitas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, só reveladas por obra do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Promotores e juízes colocam em dúvida a independência do órgão, subordinado ao Ministério do Fazenda. O Tribunal de Contas da União (TCU), além disso, aprovou auditoria no órgão depois de constatar "estrutura distante da minimamente necessária para o combate à lavagem". A principal função do Coaf é centralizar dados sobre movimentações atípicas, repassados pelo sistema financeiro, e transmiti-los às autoridades policiais e judiciais. Os destinatários das informações estão, porém, insatisfeitos com o produto que recebem. "As notificações chegam em estado bruto. Não há investigação prévia", diz o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, especializado em crimes financeiros e que atuou na descoberta das contas no exterior atribuídas ao ex-prefeito Paulo Maluf. O Coaf alega não ter poderes para investigação e admite não ter estrutura para tal. Dispõe de 31 funcionários para processar as comunicações de operações suspeitas. Foram 7.766 até julho - mais do que em 2004.

Para o TCU, o Coaf padece também de excesso de conselheiros. São nove, representantes de diferentes órgãos do governo federal. Alguns seriam dispensáveis, como a Controladoria-Geral da União (CGU). "Há um inchaço", concorda Adriene Senna, que presidiu o Coaf até 2002. A secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, avalia, porém, que o maior problema é a descoordenação das diferentes instâncias públicas envolvidas no combate à lavagem. "A articulação precisa ser melhorada", diz. O Coaf se queixa, por exemplo, de ter pouco retorno de delegados, promotores e juízes sobre a utilidade das suas notificações.