Título: Desequilíbrio fiscal põe Europa em xeque
Autor: Ivna Maluly
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, Economia & Negócios, p. A22

Os ministros das Finanças da zona do euro vão se reunir em Bruxelas, na primeira semana de setembro, para avaliar o futuro das economias de Portugal, Itália, França e Alemanha. O primeiro lidera o ranking dos endividados e registra - pela segunda vez - déficit público além dos limites determinados pela União Européia (UE). O índice deverá ser de 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB), bem acima dos 3% permitidos para os países que usam o euro.

Dentro das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que disciplina os países que compõem a Zona do Euro, Portugal tem três anos para corrigir seus déficits. Se ao término de 2008 não conseguir se salvar, poderá ficar em maus lençóis, como prevê a Comissão Européia (braço executivo da UE).

- Num primeiro momento, o Conselho imporá sanções e, nos dois anos seguintes, multa caso o déficit não seja corrigido. Mas o caso de Portugal é grave e o país poderá, se desejar, sair da zona do euro - diz um economista alemão que não quis se identificar.

A Comissão Européia exigirá que Lisboa apresente num prazo de seis meses as medidas que aplicará para melhorar sua situação. Apesar da UE considerar o estado febril de Portugal passageiro, vale lembrar que o país foi o primeiro da Zona do Euro - formada ainda por Alemanha, França, Itália, Espanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Grécia, Holanda, Irlanda e Luxemburgo - a ser submetido ao processo de déficit excessivo, quando registrou, em 2001, 4,1%. Os desequilíbrios da economia portuguesa vêm se acumulando ao longo dos últimos anos, traduzidos pela perda de competitividade.

Assim como Portugal, a Itália também tem passado por maus momentos em sua economia. Em 2003 e 2004, o déficit atingiu 3,2% do PIB. Tendo em vista que a Itália passa por uma fase prolongada de crescimento econômico baixo, os ministros das finanças da UE deram um prazo até 2007 para manter-se na média dos 3%. Para 2005, a previsão é de que o indicador fique na casa dos 3,6%.

A situação caminha mal ainda para as duas principais economias da zona do euro: França (mais de 3%) e Alemanha (3,7%). No ano passado, os dois países conseguiram escapar das sanções previstas pelo pacto. Eles violaram o teto permitido para o déficit fiscal três anos seguidos. A Comissão Européia, no entanto, cedeu aos apelos e foi mais flexível na interpretação do pacto, tolerando um déficit maior para evitar a queda-de-braço entre Bruxelas e os pesos pesados.

Também entre os endividados encontra-se a Grécia. Depois de ter escondido os verdadeiros números de sua economia desde a entrada em vigor do euro, o país se encontra em situação alarmante. Bruxelas ofereceu mais um ano, até o fim de 2006, para que o país reduza o déficit de 5,5% em 2004. O prazo para a Grécia era até o fim de 2005, mas Bruxelas decidiu que, à semelhança do que tinha feito com França e Alemanha, um país deve ter uma folga de um ano. Uma regra que ainda não existia quando Portugal violou o déficit em 2002.

A crise nos países de moeda única é reflexo de um quadro delicado por que vem passando a Zona do Euro. De acordo com sondagens realizadas dentro de alguns países, como França e Alemanha, existe um sentimento de insatisfação e uma recente estatística na França apontou que 62% da população gostaria de retornar ao franco. E um debate polêmico, em junho, na Alemanha, levantou a hipótese de a Italia se retirar da Zona do Euro. Uma pesquisa, revelou que 56% dos alemães desejam o retorno ao marco, enquanto 48% estimam que o euro contribuiu para fragilizar a economia e 90% acham que a moeda única levou a uma alta dos preços.

Globalmente, a região caminha claudicante e deverá crescer 1,3% este ano e 1,9% em 2006, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em termos comparativos, a economia dos Estados Unidos cresce a um ritmo de 4%. Fora da Zona do Euro, o Reino Unido deverá avançar 2,6% em 2005.