Título: Roubos assustam moradores de Petrópolis
Autor: Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, Rio, p. A23

O comerciante Erly José de Souza, 48 anos, está contando os dias para chegar o fim do ano e se mudar de Petrópolis. Mineiro de Muriaé, ele sonha em voltar à cidade natal para cuidar de bois e galinhas, abandonando de vez o ramo de comidas e bebidas. Pela quinta vez em oito meses, a Lanchonete Parque da Cidade foi assaltada, contabilizando 38 arrombamentos em três anos de funcionamento, o que representa, segundo ele, um prejuízo de R$ 15 mil. A lanchonete fica no Parque Municipal Cremelie, a dois minutos do Centro de Petrópolis. Nem a presença de guardas municipais - dois agentes se revezam dia e noite - evitou tantos assaltos. Na sexta-feira, o pedreiro fazia os últimos reparos na grade que dá aceso à cozinha da lanchonete, por onde os ladrões entraram e levaram R$ 2,5 mil em mercadorias e R$ 130 em moedas.

- Não agüento mais essa cidade. É duro você ganhar uma licitação (a área é da prefeitura), trabalhar sério e, no fim das contas, tomar um baita prejuízo - desabafa o comerciante, que só registrou metade das ocorrências na 105ª DP (Petrópolis).

O comportamento de Erly é o mesmo da maioria dos comerciantes que sofreram com arrombamentos. A cinco quilômetros do parque, na Rua General Rondon, no Quitandinha, a funcionária Beatriz Ferreira, 20, lembra que, em maio, os assaltantes levaram R$ 900 em dinheiro, dezenas de fichas de videoquê e mais de R$ 2,5 mil arrancados dos três caça-níqueis do Bar Imagine.

- Registrar queixa não adianta, ainda mais tendo máquinas de jogo - observa Beatriz.

Na delegacia, os policiais ignoram o aumento da violência na cidade, apesar de 122 presos estarem em celas subterrâneas - 70% deles por tráfico, roubo e pensão alimentícia. Segundo eles, Petrópolis cresce desordenadamente sem ainda oferecer riscos. Com a desativação da carceragem, prevista para setembro, os detentos vão ser transferidos para as casas de custódia do Rio.

- O processo de favelização é inegável, mas não temos registro de armamento pesado nem de traficantes procurados. Aqui é tudo peixe pequeno - conta um policial de plantão.

Os policiais garantem que as drogas consumidas em Petrópolis vêm da Favela do Lixão, em Duque de Caxias, e de outras favelas do Rio de Janeiro. De acordo com eles, os esticas compram para revender na cidade serrana, fato confirmado por freqüentadores da galeria que funciona em frente ao Pronto Socorro Lêonidas Sampaio, na Rua Teresa, onde uma loja serve de ponto de encontro.

Para as estudantes de medicina Natália Amorim, 20, e Natália Doné, 20, as estatísticas sobre o crescimento da violência na cidade são encobertas para não atrapalhar o turismo. Na sexta-feira, elas mostravam a uma amiga, também chamada Natália, os pontos turísticos, sem esquecer de tomar cuidado ao passar por determinados locais.

- Um dos apartamentos do prédio onde moro foi assaltado mês passado e acho que o dono sequer registrou queixa - conta Natália Amorim.