Título: A explicação que complica a história
Autor: AUGUSTO NUNES
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2005, País, p. A2

O presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, enviou ao JB a seguinte réplica à coluna de quinta-feira passada, que tratou do nebuloso empréstimo concedido pelo PT, em 2002, ao então dirigente Luiz Inácio Lula da Silva: Ao contrário do título da coluna do dia 18 de agosto, escrita pelo prestigioso jornalista Augusto Nunes, não me considero amigo trapalhão do presidente Lula. Esclareço que foram duas as razões básicas que me levaram a pagar do próprio bolso, em quatro parcelas, uma dívida cuja maior parte eu mesmo não reconheci por ocasião da rescisão do contrato de trabalho do presidente Lula com o PT, em dezembro de 2002. Primeira: minha contestação não foi aceita porque o valor total de R$ 29.436,26 acabou contabilizado como dívida pelas regras do Fundo Partidário. Segunda: me senti na obrigação por ter sido o procurador legalmente nomeado para resolver a questão.

Reafirmo que os pagamentos foram efetuados em dinheiro justamente para que os extratos do Banco do Brasil fossem impressos em nome de Luiz Inácio Lula da Silva, a quem era imputado o suposto débito na rescisão contratual, o que não ocorreria se as quitações tivessem sido feitas em cheques meus ou transferências de conta-corrente. Não exigi recibo do PT por considerar que o próprio comprovante do banco é o recibo.

A propósito, gostaria de informar ao prezado Augusto Nunes que nasci em Mauá (SP). Trabalhei, como metalúrgico, na Brastemp e Volkswagen, e, entre outras atividades, fui diretor do Dieese, participei da fundação do PT, da CUT e do Instituto Cidadania. Não fui dono de bar em rodoviária nem jornaleiro e vendedor de cerâmica, ofícios tão dignos quanto o de jornalista. Muito menos fui tesoureiro particular de Lula e família, como está dito na influente coluna "Coisas da Política".

O colunista se equivocou quanto ao local de nascimento de Paulo Okamotto. As demais informações foram fornecidas por ele próprio numa entrevista concedida à revista IstoÉ Dinheiro e publicada em 15 de dezembro de 2004. À época, o presidente do Sebrae não fez reparos ao texto. Por motivos ignorados, decidiu agora retocar a biografia.

Feitas as ressalvas, tratemos do essencial. Confusa na forma, anêmica no conteúdo, a carta de Okamotto confirma a urgente necessidade de incluí-lo na relação dos depoentes da CPI dos Correios. Na semana passada, a bancada governista conseguiu adiar a convocação. Pena. O país está ansioso por ver o amigo trapalhão iluminando as muitas zonas de sombra que escurecem a versão costurada às pressas.

Por que não se apresentou de imediato como o responsável pela quitação do débito? Por que esperou tantos dias para devolver a serenidade ao amigo Lula, abalada pela suspeita de que o pagamento fora feito com dinheiro do valerioduto? (Chance é o que não faltou ao ator desastrado: ele entrou em cena uma semana depois de ter viajado com Lula até Garanhuns. Por que os companheiros não trataram do tema a bordo?)

Por que Lula negou, e continua negando, ter sido algum dia devedor do PT? Por que um procurador se apressa a pagar o débito rejeitado pelo autor da procuração? Por que Okamotto demorou a identificar as agências do Banco do Brasil que teria procurado para fazer os supostos depósitos? Como pode um integrante da classe média, conforme se define o pagador, desembolsar quase R$ 30 mil com a desenvoltura dos ricaços perdulários? Por que a doação de Okamotto a Lula não aparece nas declarações de renda dos dois?

O presidente do Serviço Brasileiro de Assistência às Micro e Pequenas Empresas parece carecer de juízo. Talvez ache que o Brasil é um viveiro de idiotas. Saberá que não é. Se insistir no abraço do afogado, logo afundará no pântano que vem engolindo figurões do PT.