Título: Crise deixa lições para o país
Autor: Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2005, País, p. A5

Perto de serem completados 100 dias do início da pior crise do Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cientistas políticos, reunidos ontem em debate na Universidade Cândido Mendes, enxergaram nos escândalos a oportunidade de aperfeiçoamento da relação administrativa entre os poderes públicos. Os debatedores também avaliaram positivamente o pronunciamento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que tranqüilizou o mercado ao negar as acusações de corrupção em sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto. O sociólogo Luiz Eduardo Soares e os cientistas do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Renato Lessa, Fabiano Santos e Werneck Viana debateram com uma platéia de pelo menos 300 pessoas.

- Devemos ressaltar a oportunidade de aperfeiçoamento de mecanismos de controle de gastos eleitorais, das relações entre o setor público e privado e da relação entre os poderes Executivo e Legislativo - apontou o cientista político Fabiano Santos, ao lembrar a origem dos escândalos com o suposto esquema de corrupção dos Correios envolvendo Maurício Marinho e o deputado federal Roberto Jefferson (PTB).

Durante o debate - que analisa a origem e os desdobramentos da crise desencadeada pelo petebista - houve consenso entre os integrantes da mesa sobre as declaração do ministro Palocci no último domingo.

- A declaração do ministro trouxe uma sensação de alívio e baixou a temperatura da crise. Mas esta é a percepção atual e pode mudar a cada dia - apontou Renato Lessa.

O ex-secretário Nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares, demitido do Governo federal sob acusação de nepotismo, procurou não desferir ataques diretos. Ele centrou sua exposição na adoção da agenda econômica semelhante a do governo FH. Para ele, a ''parcela hegemônica do PT que governava a partir da Casa Civil'' criou uma situação estranha com o desenrolar da crise. Segundo Soares, a semelhança na condução da economia ''timidamente apoiada pelos tucanos'' gerou a necessidade de maior dramatização da oposição no embate político. A opinião é compartilhada pelo cientista político Werneck Viana no que chamou de ''coalizão surda'' em defesa de uma agenda neo-liberal. Werneck fez ainda um apelo para que a crise seja resolvida dentro da constitucionalidade e que sirva para reforçar o processo democrático no Brasil.

O Partido dos Trabalhadores também foi analisado. Para Soares, diversas tendências são mantidas distantes com a centralização provocada pelo grupo majoritário que tem uma estratégia para a governabilidade, diferente das diversas ideologias e práticas que são colocadas em discussão no interior do partido.

No dia 5 de setembro será realizada uma nova rodada de debates sobre a crise do governo Lula no auditório da Universidade Cândido Mendes. Estarão presentes os deputados federais petistas Antônio Biscaia e Chico Alencar, além da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Outros debatedores serão o filósofo Leandro Konder e o economista Paulo Nogueira Batista.