Título: Chamas assustam Portugal
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2005, Internacional, p. A9

Centenas de moradores do povoado de Torres do Mondego, periferia de Coimbra, foram removidas ontem diante do avanço da pior onda de incêndios florestais em mais de 40 anos. Cerca de 34 focos mobilizam 3.250 bombeiros, 894 caminhões e 38 helicópteros e aviões Canadair (específicos para atuar nesses casos) de vários países. Mais de 130 mil hectares já foram destruídos e 15 pessoas morreram. A situação se agravou ao ponto de o presidente Jorge Sampaio ter pedido às empresas portuguesas que liberem funcionários treinados como bombeiros voluntários para ajudar. O pior foco é em São Furtuoso ¿ em Coimbra ¿, onde 153 bombeiros, 86 caminhões e quatro aviões tentam impedir que as chamas destruam mais casas. Nessa área, as equipes conseguiram barrar as chamas depois que quatro prédios foram destruídos durante a madrugada. A cidade histórica abriga a universidade mais antiga do país, palácios e igrejas, e foi a primeira capital de Portugal até o século XIII.

O governo estuda a possibilidade de recorrer à União Européia para poder usar o Fundo Europeu de Catástrofes Naturais, já que os focos se espalham também por áreas no Centro e no Sul do país. A gravidade da situação provocou, ainda, o fechamento de várias estradas no Norte, entre elas, a rodovia A23, uma das mais importantes. Espanha, França, Alemanha e Itália cederam aviões, e hoje chegam dois helicópteros holandeses com capacidade para 2,5 toneladas de água cada.

Os incêndios também afetaram às comunicações. Desde a manhã de hoje, vários povoados de Leira estão sem telefone. Proporcionalmente, a área afetada em Portugal foi maior que nos vizinhos Espanha e França.

Especialistas afirmam que é consequência da administração das propriedades rurais no país, onde não há registro central das terras. Se houvesse, seria possível identificar os donos e obrigá-los a criar barreiras de descampados ou cinturões de árvores resistentes ao fogo. Além disso, muitos portugueses estão abandonando áreas rurais, o que significa que não há monitoramento das florestas. A plantação de eucaliptais para a produção de papel e de polpa também contribui para a disseminação dos incêndios, já que essa espécie queima mais fácil.