Título: Arroz une Mercosul contra EUA
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. A19

Vencidas as brigas contra o subsídio dos Estados Unidos aos produtores de algodão e do acesso ao mercado europeu de bananas, o Brasil estuda um novo embate na Organização Mundial do Comércio (OMC). O alvo agora são os subsídios americanos ao arroz. A iniciativa pretende unir recentes desafetos, já que contaria com o apoio de Uruguai e Argentina, acusados de inundar o mercado brasileiro com preços abaixo do custo de produção nacional.

Agora, os três países buscam a união contra os EUA, que respondem por cerca de 15% do mercado mundial e cujos produtores recebem US$ 1 do governo por cada dólar vendido.

Roberto Azevêdo, chefe da Coordenação-Geral de Contenciosos do Ministério das Relações Exteriores, confirmou que os empresários brasileiros do setor participaram de uma reunião na semana passada, em Brasília, juntamente com integrantes do Ministério da Agricultura, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Itamaraty para debater que medidas poderiam ser tomadas contra os Estados Unidos.

De acordo com dados do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), arroz e algodão são os produtos que recebem o maior subsídio do governo americano se for levado em conta o valor da produção. No caso do algodão, os subsídios chegam a US$ 3 bilhões, com os EUA respondendo por cerca de 40% do mercado mundial.

O Uruguai chegou a anunciar há algumas semanas o intuito de abrir um contencioso contra os EUA em relação ao arroz, mas voltou atrás depois de conversas bilaterais com representantes americanos.

Agora, produtores brasileiros apóiam a demanda de uruguaios e argentinos. Para Marcos Jank, presidente do Icone, o contencioso será inevitável caso os EUA não apresentem novidades relativas ao corte de subsídios até a reunião ministerial da OMC, em Hong Kong, em dezembro.

- O comportamento do mercado também vai ser determinante. Se houver queda de preços, o subsídio vai se tornar mais evidente - ressalta Jank, que participou ontem do seminário Organização Mundial do Comércio: Evolução e Perspectivas, na Fecomércio-RJ.

Azevêdo afirma que as vitórias nos painéis sobre bananas e algodão conferem força aos negociadores brasileiros para questionar novamente os Estados Unidos. Ele lembra que o Brasil tem assumido crescente importância no sistema de solução de controvérsias da OMC. Enquanto o país representa apenas 1% do comércio mundial, a fatia brasileira nos contenciosos da organização chega a 10%, atrás apenas de EUA, União Européia e Canadá.

Mas Azevêdo lembra que as recentes vitórias não significam mais uma batalha ganha. Para ele, a questão envolvendo o arroz é muito mais delicada que o problema do algodão.

- O arroz não é uma commodity com cotação única, o mercado é mais segmentado. Além disso, a participação dos EUA no mercado é bem menor, o que diminui a força para derrubar preços. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) está levantando os dados para ver se é possível acionar a OMC - diz Azevêdo.