Título: Petrobras dá gás a energia elétrica
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. A20

Ao mesmo tempo em que projetos hidrelétricos enfrentam dificuldades de licenciamento ambiental e uma nova lei exige garantias de acesso a gás natural para térmicas, a Petrobras decidiu trabalhar com a hipótese de funcionamento de termelétricas a plena carga. A revisão do cenário levou a estatal a reservar 46,4 milhões de metros cúbicos diários do insumo para as usinas, num salto de 71% em relação ao volume projetado no plano estratégico anterior, no ano passado. Trabalhava-se com 27,1 milhões de metros cúbicos por dia entre 2006 e 2010.

Para dar conta do aumento da demanda das térmicas, a Petrobras investirá US$ 226 milhões em conversão de usinas movidas a gás por bicombustíveis. E elevou em 150% o montante de investimentos em gás natural, para US$ 6,5 bilhões nos próximos quatro anos. Os recursos incluem o aumento da capacidade de transporte do Gasoduto Bolívia Brasil de 30 milhões para 34 milhões de metros cúbicos diários e dezenas de projetos de gasodutos na carteira da estatal.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, revelou que o aumento da demanda projetada para térmicas considera um cenário de despacho das usinas de 100%, mas evitou comentar a relação dessa possibilidade com o risco de racionamento e de atraso de geração hidráulica. Ele, porém, destacou que ''o plano é da Petrobras'', e não do governo.

Para suprir tamanha demanda, a estatal planeja concluir ainda neste plano ''toda a infra-estrutura necessária'' para produzir mais gás a partir das novas reservas gigantes da Bacia de Santos.

Para compensar o salto previsto para a demanda das usinas, a Petrobras sinaliza induzir a queda no consumo de distribuidores com finalidades para Gás Natural Veicular e indústrial. Gabrielli admitiu que poderá ter de coibir o uso do combustível em carros, com preços mais amargos. A indústria também pode ser atingida.

- A indústria tem combustíveis substitutos. Esta previsão de despacho simultâneo de todas as térmicas é conservadora e provavelmente não acontecerá. Manteremos um nível contingenciado que vai depender da demanda das térmicas por alguns anos - disse Gabrielli.

A Petrobras parte da premissa de que a demanda industrial por gás natural será de 39,1 milhões de metros cúbicos por ano de 2006 até 2010. Até o plano anterior, a expectativa era de um mercado de 36,7 milhões de metros cúbicos. Para o GNV, não houve mudança, apesar do crescimento de dois dígitos do mercado.