Título: Sereno se contradiz em depoimento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2005, País, p. A4
Depois de negar que tratasse no Palácio do Planalto de assuntos de interesse do PT, o ex-assessor da Casa Civil Marcelo Sereno se contradisse ontem, em depoimento para a CPI dos Bingos. Ao responder a outra pergunta, admitiu ter recebido na Casa Civil o dono de agências de publicidade Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão, para discutir campanhas eleitorais do PT.
Sereno, que também foi secretário de Comunicação do PT, disse que os encontros ocorreram ''no fim de 2003 e início de 2004'', quando ele era chefe da assessoria especial do então ministro José Dirceu.
-Duas ou três vezes, Valério me procurou no Planalto e conversei sobre campanha eleitoral no Rio. Ele queria que a empresa de marketing dele ganhasse mais fácilmante contas de campanhas.
O senador Leonel Pavan (PSDB-SC) tratou então de confirmar com Sereno se ele realmente tratava de campanhas do PT no Palácio do Planalto, ''na hora de trabalho, onde era pago com dinheiro público''.
- Eu me arrependo e isso foi uma das razões de eu ter deixado o cargo - respondeu o ex-assessor.
Segundo Sereno, a partir da negociação no Palácio, Valério foi contratado para a campanha do candidato a prefeito de Petrópolis pelo PT, Paulo Mustrangi, que foi derrotado.
Não ficou claro no depoimento se o então ministro e hoje deputado José Dirceu (PT-SP) sabia que Sereno, um de seus assessores mais próximos, discutia em horário de serviço interesses do PT nas campanhas eleitorais para prefeitos no Estado do Rio.
O ex-chefe de gabinete da Casa Civil e depois assessor especial de Dirceu disse que não discutiu empréstimos quando trabalhava no Palácio do Planalto.
Aos senadores, Sereno disse que seu trabalho na Casa Civil consistia em encaminhar as indicações para cargos dos partidos aliados aos diretores de empresas públicas.
No depoimento à CPI, Sereno disse que deixou a Casa Civil e assumiu a Secretaria de Comunicação do PT nacional porque queria se ''dedicar a campanhas eleitorais''. Sua saída, segundo ele, nada teve a ver com e escândalo Valdomiro Diniz.
Para o presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB), Sereno não falou a verdade. Já para o relator da CPI, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), ''o depoente ficou o tempo todo dizendo que não sabia. Acho que ele sabia muito e por isso veio aqui protegido por um habeas corpus''.
Sereno depôs com habeas corpus do Supremo Tribunal Federal que permitia a ele não ser preso mesmo se não respondesse a todas as perguntas.
O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) perguntou se Sereno sabia que seu advogado, Roberto Podval, é o mesmo do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado de mandar matar o prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, e do grupo Schincariol, envolvido em suposto esquema de sonegação. Sereno confirmou e disse que vai pagar R$ 20 mil pelo serviço de Podval.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), confirmou nesta terça-feira que a ex-prefeita petista de Campina Grande (PB) Cosete Barboza pode ser convocada a depor sobre recursos que teriam sido repassados por meio de caixa dois a Marcelo Sereno.
Em depoimento ao Ministério Público da Paraíba na semana passada, a ex-secretária de finanças de Campina Grande Aleni Rodrigues informou que remeteu a Sereno R$ 600 mil a pedido do então ministro da Casa Civil José Dirceu.
Para integrantes da CPI, os recursos podem estar ligados ao esquema do mensalão.