Título: Líder evangélico quer Chávez morto
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2005, Internacional, p. A8
A rusga diplomática entre Estados Unidos e Venezuela ganhou mais um capítulo ontem, quando o líder evangélico Pat Robertson pediu que Washington mate o presidente venezuelano Hugo Chávez, a quem classi ficou, durante seu programa televisivo ''The 700 Club'', como um ''perigoso inimigo''.
- Se ele acredita que estamos tentando assassiná-lo, acho que realmente devíamos ir adiante e fazer isso - afirmou o pregador de 75 anos, em seu programa evangélico transmitido ao vivo pelo canal Christian Broadcasting (CBN), com sede em Virginia Beach, Virgínia (Leste).
O polêmico comentário de Robertson foi feito na conclusão de uma longa reportagem da CBN sobre as declarações de Chávez contra os EUA e os estreitos laços que o líder venezuelano mantém com o presidente cubano, Fidel Castro, e com as nações árabes.
O tele-evangelista - que em 1988 disputou a nomeação à candidatura republicana à Casa Branca - lamentou que, durante um breve e fracassado golpe de Estado na Venezuela, tentado em abril de 2002, ''os EUA não fizeram nada para ajudar a derrubar Chávez''. Desde então, afirmou Robertson, Chávez ''destruiu a economia venezuelana e está tentando constituir uma cabeça-de-ponte para a infiltração do comunismo e do extremismo muçulmano no continente''.
- Temos a capacidade de eliminá-lo e acho que chegou o momento de exercer essa capacidade - afirmou o religioso ultraconservador. - Não precisamos de outra guerra de US$ 200 bilhões para nos desfazermos de um ditador autoritário. É muito mais fácil e barato encarregar um agente clandestino para acabar com o problema.
A falácia gerou reações, em Caracas e Washington. O vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, acusou Robertson de fazer afirmações ''terroristas'' ao pedir o assassinato de um presidente eleito:
- A bola está com a Justiça americana, após as afirmações criminosas de um cidadão de seu país. É uma imensa hipocrisia manter esse discurso contra o terrorismo e ao mesmo tempo, no coração dos EUA, existirem declarações terroristas como essas.
- Esse homem não pode ser um cristão de verdade. Ele é um fascista - reagiu, no Parlamento em Caracas, a deputada chavista Desiré Santos Amaral, sobre Robertson.
Já o embaixador venezuelano em Washington, Bernardo Alvarez Herrera, pediu que o governo de George Bush condene ''nos termos mais duros'' a declaração do líder evangélico.
- Estamos preocupados. É essencial que o governo americano garanta a segurança de nosso presidente, quando este visitar a América, no futuro - ressaltou Herrera, lembrando que Chávez tem prevista uma viagem para Nova York em setembro, para a assembléia da ONU.
Os departamentos de Estado e de Defesa dos EUA condenaram a ''sugestão'' de Robertson, mas não nos duros termos propostos pela embaixada.
- Pat Robertson é um cidadão comum, e suas opiniões não representam a política dos EUA. Não compartilhamos seu ponto de vista e seus comentários são inadequados - disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack.
Em várias ocasiões, Chávez vem afirmando ser alvo de um plano de assassinato, por parte da CIA. Entretanto, McCormack reiterou que as acusações de que a Casa Branca esteja planejando ações hostis contra o governo venezuelano ''são completamente sem fundamento''.
Enquanto isso, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, garantiu, em entrevista coletiva no Pentágono, que os EUA ''não fazem esse tipo de coisa'' e que os assassinatos políticos são proibidos pelas leis nacionais.
Washington, entretanto, não deixa de bater na tecla da instabilidade gerada pela Venezuela. Segundo McCormack, os EUA querem que o país ''pretenda ter um papel positivo no continente''.
- Convidamos Caracas a se unir a uma ''agenda positiva'' em favor da democracia e da prosperidade - disse.