Título: Delegação brasileira apóia polícia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2005, Internacional, p. A9

A missão diplomática brasileira - que se reúne hoje com a Comissão Independente para Queixas contra a Polícia (IPCC), responsável pela investigação do o assassinato de Jean Charles de Menezes, - deu ontem um atestado de idoneidade à Scotland Yard. A corporação é acusada de montar uma farsa para proteger os responsáveis pelo crime. Perguntado, em entrevista, sobre as denúncias da imprensa local em torno do encobrimento da sucessão de erros que levaram à morte de Jean, o embaixador, Manoel Gomes Pereira, respondeu:

- À essa altura, não temos razões para acreditar nisso.

Mas as razões existem e não são poucas. Documentos revelaram que a polícia mentiu ao justificar o assassinato, atribuindo ao brasileiro, que era de pele clara, a descrição de um suspeito etíope de pele escura. Além disso, a versão forjada para o caso inclui a descrição de um casaco que Jean não usava e de uma mochila que o jovem igualmente não levava. Pior: é acusada ainda de ter apagado as imagens das câmeras de tevê da estação e do vagão do metrô onde o eletricista foi baleado.

Amenizando as críticas unânimes e ignorando o pedido de inquérito público, o embaixador deu crédito à IPCC:

- É uma comissão independente e confiamos nela plenamente - declarou.

Pereira reforçou o objetivo da missão, enviada a Londres por um Itamaraty ''indignado'', de apenas ''entender'' o episódio ocorrido um dia após ataques frustrados à cidade:

- Queremos conhecer as circunstâncias e compreender o papel da IPCC e a lei vigente. Não queremos substituir as autoridades - completou, comentando sobre a reação do governo brasileiro.

- Informamos em nota, no último dia 17, que estávamos perplexos e tentando achar uma explicação - disse. - Não tínhamos idéia dos elementos surgidos na imprensa. (O texto do Ministério de Relações Exteriores também usa o termo indignado e foi escrito justamente em função das notícias). Membro da delegação, Márcio Garcia, do Ministério da Justiça, endossou:

- O atraso de quase 72h (da entrada da IPCC nas investigações) está ligado à suspeitas com base na lei antiterror - disse. O principal acusado pela farsa, o chefe de polícia Ian Blair, na verdade tentou impedir que a comissão apurasse o caso.

A missão, integrada também pelo subprocurador geral da República, Wagner Gonçalves, se reuniu ontem com parentes de Jean. Até sexta-feira, se encontrará com membros da Coroner's Court, instância que investiga mortes suspeitas, e da Procuradoria do Estado. Provavelmente se reunirá com a advogada do caso, Gareth Peirce.

O relatório do caso só será divulgado depois de 23 de fevereiro de 2006. Apesar de esperar concluir seu trabalho até o Natal, a IPCC informou que a data se deve a ritos jurídicos. Até que processos penais e possíveis sanções sejam concluídas, nada será revelado. Segundo o investigador John Cummins, o material recebido em 27 de julho da polícia é ''amplo''.