Título: Olho no longo prazo
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. A19

Os fundos internacionais ''estão certos em se preocupar'' com a atual crise política no Brasil, mas o foco está muito sobre as pessoas, enquanto deveriam se preocupar mais com os efeitos de longo prazo, alertou o editorial de ontem do jornal britânico Financial Times.

''A reforma econômica parou. As investigações sobre o escândalo estão ocupando completamente as duas casas do Congresso e tornando difícil para o governo a passar até mesmo as reformas mais modestas, como tornar o sistema fiscal do país menos complicado para as empresas'', diz o diário.

O FT afirma ainda que os efeitos da crise devem ter uma ''longa duração'', terminem ou não o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, seus mandatos de quatro anos. O presidente Lula pode sobreviver à crise e mesmo conseguir ser reeleito em 2006, ''mas sua capacidade de administrar está minada'', diz o jornal. ''Essa é uma perspectiva preocupante para o país e já afeta as empresas, que começam a adiar decisões sobre investimentos para depois das eleições presidenciais''.

Para o jornal, os investidores têm ''sido consolados'' pelos fundamentos fortes da economia, ''apoiados em uma dura política fiscal e pela taxa de câmbio flexível, e por um conjunto pouco comum de circunstâncias favoráveis, incluindo as baixas taxas de juros internacionais e os altos preços das commodities''.

O FT lembra ainda que o presidente Lula ''permanece popular entre os pobres que se beneficiaram com os aumentos com os gastos sociais'', mas que seu julgamento político tem sido questionado e sua base política ''erodiu''.

''No centro de um escândalo, que já está em seu quarto mês, estão alegações bem documentadas de financiamento político irregular'', diz o jornal, referindo-se ao caso das irregularidades encontradas nas contas de campanha dos partidos da base aliada do governo.