Título: CPI aprova quebra de sigilo dos fundos de pensão
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 25/08/2005, País, p. A2

A CPI dos Correios aprovou a quebra de sigilo das aplicações e movimentações financeiras de três dos mais representativos fundos de pensão do país - Funcef, Petros e Geap - no Banco Rural e no BMG. Em nova votação hoje, a medida deve ser estendida para outras oito entidades de previdência. A quebra abrange os últimos cinco anos de movimentação. O presidente da CPI, senador Delcidio Amaral, vê a quebra de sigilo como um grande passo para recolher dados que desvendem a origem do dinheiro que desencadeou o esquema de corrupção.

A quebra do sigilo de fundos de pensão como o do Banco do Brasil (Previ) e dos Correios (Postalis) será votada hoje. Os presidentes da Previ, Sérgio Rosa, da Funcef, Guilherme Narciso de Lacerda, e da Petros, Wagner Pinheiro de Oliveira, prestaram depoimento secreto ontem na CPI do Mensalão. Os representantes de alguns dos principais fundos de pensão do país demonstraram tranqüilidade quanto à série de quebras de sigilo bancário nas aplicações nos bancos Rural e BMG. Serão abertos dados de 11 fundos de pensão, na investigação do mensalão.

Sérgio Rosa disse aos parlamentares que na sua gestão, nos últimos três anos, a Previ aplicou R$ 60 milhões nos bancos Rural e BMG, tudo resgatado com lucro para o fundo. Ele considera o investimento pequeno, perto da carteira de R$ 71 bilhões da Previ. No Banco Rural, o último CDB, de R$ 34 milhões, foi em dezembro, por um período de 34 dias. Os fundos fazem desde 2004 quase sua totalidade de aplicações por gestores terceirizados, em pregão eletrônico. Ganha quem der a maior taxa de retorno.

- O que vão descobrir é a taxa de remuneração das aplicações - afirma Sérgio Rosa.

Ele não vê problema na quebra de sigilo, mas alerta que a CPI deve manusear os dados de forma técnica e profissional. Guilherme Narciso, da Funcef, vai além e diz que há um ''lado positivo'' na quebra de sigilo, para acabar de vez com a suspeita de que os fundos financiaram o mensalão.

A Funcef - com um patrimônio acima de R$ 18 bilhões - não encontrou aplicação direta nos dois bancos investigados pela CPI. Teve em 2003 e 2004, mas tudo foi resgatado, sem prejuízo, segundo Narciso. Já a Petros tem um total de R$ 96 milhões em aplicações diferenciadas nos bancos Rural e BMG. Wagner Pinheiro chama a atenção que o fundo tem um patrimônio de R$ 25 bilhões.

- Os fundos não participaram de qualquer esquema de corrupção - diz Wagner.

A relação de alguns fundos com as empresas de Marcos Valério é de locatário para locador. A Previ já alugou sala para a DNA Propaganda, de Valério, no Number One, em Brasília. A Petros tem alugado sala para a DNA Propaganda, no Corporate Center, também na capital.

- Temos 4,5 mil imóveis no país - esclarece Wagner.

Alguns fundos fazem mais de 100 mil operações bancárias por mês, quando se inclui o pagamento e recebimento dos benefícios. Rosa não acha que há informação que sustente quebra ampla dos fundos:

- Se a CPI entender que este procedimento vai dar mais conforto, que seja feito com a proteção das informações, de forma profissional. Talvez fosse melhor incursões objetivas.

Na próxima quarta-feira, os presidentes da Previ, Petros e Funcef voltam a conversar na CPI do Mensalão, em sessão pública. Os representantes dos fundos de pensão rebateram ligações políticas que tenham resultado em influência para aplicação dos fundos, de forma a beneficiar partidos. Rosa afirmou que tem relações pessoais com o ex-ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, atual assessor especial da Presidência:

- Isso não me desabona. Pelo contrário. Fui eleito pelos participantes - disse Rosa.