Título: Relator pede hoje cassação de Jefferson
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 25/08/2005, País, p. A3

O deputado Jairo Carneiro (PFL-BA) deve pedir hoje a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por quebra de decoro parlamentar. Será o primeiro parlamentar envolvido no escândalo de mensalão a ter o futuro definido pelo Conselho de Ética da Câmara. A linha mestra do relatório baseia-se em três pontos: Jefferson é réu confesso por ter pego R$ 4 milhões sem declarar ao Tribunal Superior Eleitoral; ele afirmou ter havido uma reunião entre parlamentares do PP e do PL com o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), reunião negada por este último. Por fim, Roberto Jefferson indicou apadrinhados seus para cargos políticos e, em troca, pedia contribuições para o partido. Na análise de alguns integrantes do Conselho de Ética, existem condições mais do que suficientes para acusar Jefferson de quebra de decoro parlamentar. Uma outra linha de raciocínio também poderá aparecer no relatório, mas ainda não está definida. A acusação de que o termo ''mensalão'' tenha sido criada por Jefferson para dar um impacto às suas denúncias.

- Não houve mensalão, houve dinheiro para campanhas eleitorais. Mas, se o Jefferson utilizasse a expressão Caixa 2, as palavras dele teriam bem menos repercussão - confirmou um integrante do Conselho.

O relatório será lido na manhã de hoje, mas a votação ficará para a semana que vem, por conta de um provável pedido de vistas de algum deputado. Jefferson passou o dia de ontem reunido com seus advogados. Pelo regimento, ele tem o direito de se pronunciar antes da leitura do relatório. Pessoas próximas a ele afirmam que o petebista está consciente e conformado diante da possibilidade de cassação, mas que não vai morrer calado. A expectativa é de que, no provável discurso, Jefferson exponha novos nomes envolvidos no esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza.

Este poder de Jefferson sobre os destinos do Congresso pode contar a seu favor no Conselho e, principalmente, no plenário da Câmara. Palpites não faltam sobre os votos dos 14 integrantes do Conselho, mas as apostas mais fortes são 10 a 4 ou 8 a 6 pró-cassação. O voto aberto pode prejudicar os planos do petebista.

- Poderemos ter até 14 a 0, por que não? Mas acho pouco provável - comentou outro integrante do Conselho.

Apesar de quase certa a aprovação do pedido de cassação, alguns integrantes do Conselho tentam ainda reverter votos contrários a Jefferson. Argumentam que o parlamentar fluminense prestou um grande serviço ao país ao denunciar o esquema de corrupção montado pelo governo do PT e que, por isso, teria direito ao abrandamento da pena.

Outros poderão votar a favor do presidente nacional do PTB, visando um acordo mais à frente. Afinal, a fila de processos será grande e envolverá parlamentares de vários partidos no Congresso.

O temor de alguns parlamentares é de que as decisões do Conselho não sejam corroboradas no plenário da Câmara. No Conselho, o voto é nominal e aberto, enquanto que no plenário, a votação é secreta, com a exigência de maioria qualificada - 257 votos. A situação pode favorecer o petebista, ainda mais se ele, de fato, apresentar novos nomes envolvidos com o mensalão.

- O caso de André Luiz (cassado por 311 votos a 104) é emblemático. Ele não tinha ninguém na mão, não tinha apoio do partido, não tinha representação política. E conseguiu mais de 100 votos a seu favor - declarou um parlamentar.

Enquanto integrantes da Comissão de Ética garantem que Roberto Jefferson não conseguiu comprovar a existência do mensalão, o presidente da CPI que investiga o assunto, senador Amir Lando (PMDB-RO) revelou que já existem informações suficientes para incriminar parlamentares por receberem dinheiro de forma ilícita.

Em entrevista para o o programa de Jô Soares, exibido na madrugada de hoje na Rede Globo, Lando declarou que o volume de provas contra os parlamentares já é considerável. O presidente da CP não deu, no entanto, números nem nomes dos infratores.