Título: Lula comanda pacificação entre Tarso e Dirceu
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Renata Moura e Sérgio Pardell
Fonte: Jornal do Brasil, 25/08/2005, País, p. A4

Com a chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente interino do PT, Tarso Genro, e o deputado José Dirceu (PT-SP) passaram a negociar desde ontem uma saída com o objetivo de pacificar o partido para as eleições de 18 de setembro. Pela mais nova proposta em avaliação no tabuleiro do xadrez petista, Dirceu continuaria a integrar a chapa do Campo Majoritário encabeçada por Tarso, mas sem a necessidade de compor o Diretório Nacional.

Se não fosse cassado, pelo envolvimento com o suposto mensalão, Dirceu estaria livre para negociar um assento no diretório do partido. Caso contrário, deixaria o novo comando petista à vontade para promover a refundação do partido, como deseja Tarso, não pleiteando uma vaga no Diretório Nacional após as eleições. A idéia atenderia às pretensões dos petistas que, até anteontem, caminhavam para um confronto irremediável.

- Este é um momento de gestos e de grandeza. O melhor dos cenários é a permanência do nome de Tarso para presidir a legenda - defendeu o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

O Diretório Nacional possui 83 vagas. Mas a composição é proporcional ao número de votos recebidos por cada chapa que pode concorrer com no máximo 83 nomes. Ou seja, mesmo se se sagrar vencedor, o Campo Majoritário terá de abrir espaço para outras tendências no Diretório Nacional. Com isso, não haveria constrangimento se Dirceu ficasse de fora caso seja consumada a sua cassação.

A alternativa foi discutida ontem durante a reunião no Planalto entre o presidente Lula, Tarso e o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner. Depois do encontro, Tarso atenuou o discurso em relação à disputa interna no partido. Se antes estipulava um prazo até ontem para que Dirceu se afastasse da disputa eleitoral, sob pena de desistir de concorrer à presidência do partido, ontem evitou evitou condicionar a sua decisão ao ex-ministro da Casa Civil. Reconheceu que poderá concorrer à presidência do partido se o perfil da chapa representar um conceito de transição de ruptura com o antigo modelo.

- Se for uma transição profundamente renovadora, para mudar estilo de direção, eu posso ser candidato. Se por acaso os companheiros entenderem que a transição deve ser mais suave, que deve manter um relacionamento mais estreito com o sistema dirigente anterior, argumento que não sou a pessoa mais indicada - afirmou.

O presidente do PT acrescentou que não definiu um prazo para sua decisão, pois ela ainda dependeria do resultado das negociações.

- Ninguém está dando prazo para ninguém. O único prazo fatal para essa decisão é o dia 3 de setembro, data limite para que as chapas possam ser alteradas - disse.

Dirceu foi informado da proposta durante encontros ontem com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercandante (PT-SP), o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda, e o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia quando reafirmou sua posição de não deixar a chapa do Campo Majoritário. De acordo com interlocutores do ex-ministro, a saída seria a solução possível.

- É uma proposta razoável, até porque nem todos os integrantes da chapa vão assumir. Para isto, teriam de conseguir 100% dos votos, o que não vai acontecer - afirma.

Até ontem, as demais possibilidades avaliadas não haviam sido bem recebidas pelos grupos de Dirceu e Tarso. Dirceu, em reunião pela manhã com Marcelo Déda, chegou a pregar a substituição de Tarso por o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. Por meio de emissários, no entanto, Tarso teria se manifestado sua contrariedade com a proposta. Como forma de tentar estabelecer um consenso no seio do partido, o Planalto também tentou patrocinar a ida de Dirceu para uma outra chapa, mas Dirceu não quis conversa.