Título: Lula diz que não vai se matar
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 26/08/2005, País, p. A3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou os episódios do suicídio de Getúlio Vargas e da renúncia de Jânio Quadros em seu mais forte pronunciamento sobre a crise política. Ontem, ao se dirigir aos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ele disse que, diante dos escândalos envolvendo seu governo, não seguirá o exemplo desses dois ex-presidentes. Ao relatar os episódios, Lula cometeu dois deslizes: afirmou que na quarta-feira o país ''comemorou'' a morte de Getúlio Vargas e que João Goulart ''renunciou''. O modelo que adotará, no entanto, será mesmo o da ''paciência'' de Juscelino Kubitschek. Segundo Lula, JK soube aguardar a apuração das denúncias.
- Nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência, porque a verdade prevalecerá - discursou o presidente.
O que estava programado para ser uma reunião ordinária do conselhão acabou por se transformar em um ato político, que embora tenha dado apoio a Lula, não poupou seu governo de críticas.
O presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Ricardo Young falou sobre a percepção da sociedade de que aqueles que deveriam defender as instituições falharam, no governo Lula. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, Jorge Nazareno, os trabalhadores se sentem traídos com a destruição dos sonhos idealizados pela esquerda no país, após as denúncias que se abateram sobre o governo.
O presidente incluiu em seu pronunciamento respostas a cada um dos conselheiros que discursaram antes dele. Fazendo referência a episódios da história política do país, ele comparou os ''inimigos ocultos'' citados por Jânio Quadros para justificar sua renúncia, a pessoas que fazem denúncias sem apresentar provas, em uma alusão às acusações que pesam sobre os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Antes, Lula fez uma defesa mais direta dos dois ministros.
- As coisas ficam graves (...) quando tentam envolver um homem da magnitude do Márcio Thomaz Bastos à prova das denúncias de um gangster que está condenado a 25 anos de cadeia, que faz julgamento de um ministro e apresenta como denúncia, contra o ministro, a sua declaração de Imposto de Renda - criticou Lula.
Ele também condenou a ação de procuradores do Ministério Público Estadual de São Paulo, que vazaram informações sobre o depoimento do ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti. A atitude, na avaliação do presidente, colocou em risco todo o trabalho do governo em estabilizar a economia brasileira. Lula ainda creditou os ataques e denúncias lançadas pela oposição ao seu governo a uma antecipação do embate eleitoral de 2006. E aproveitou para ressaltar que não inclui a reeleição entre suas prioridades.
- Ousei dizer um dia que era contra a reeleição, porque votei contra a reeleição na Constituição de 1988, e não fui eu quem propôs que tivesse reeleição no Brasil. O que eu não posso aceitar é que, a pretexto da eleição de 2006, pessoas ajam de forma irresponsável - reforçou.
O presidente reiterou que a crise política ou o processo eleitoral do próximo ano não o farão mudar de comportamento, sobretudo nas questões econômicas. Citou a defesa do salário mínimo de R$ 300, a manutenção da taxa básica de juros e da política cambial como exemplos da estabilidade da política econômica.
Admitiu, entretanto, que os resultados da economia neste ano ficarão aquém do programado por conta dos efeitos da crise política. Segundo Lula, 2005 era o ano em que se teria o maior crescimento da economia, nos planos do governo.
- O resultado deste ano não será nenhuma Brastemp, mas será um bom resultado. E isso aponta para que, em 2006, (...) a economia brasileira não sofra um retrocesso por conta de uma eleição neste país - considerou o presidente.