Título: Dantas e fundos de pensão na mira
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/08/2005, País, p. A4

O banqueiro Daniel Dantas - dono do Grupo Opportunity - terá de dar explicações no Congresso sobre sua suposta relação com o financiamento do mensalão. As CPIs dos Correios e do Mensalão aprovaram ontem requerimentos convocando Dantas para depor. Na CPI dos Correios, foi quebrado o sigilo bancário, fiscal e telefônico, dos últimos cinco anos, da Telemig Celular e da Amazônia Celular, nas quais o Opportunity tem participação. O primeiro depoimento de Dantas foi marcado para o dia 14, na CPI dos Correios. No requerimento aprovado na CPI do Mensalão, Dantas é convocado - ainda sem data marcada - para explicar ''os vultosos recursos depositados nas contas'' da DNA e da SMPB, de Marcos Valério Fernandes.

Foi aprovado ainda requerimento convocando também o presidente do Citigroup no Brasil, Gustavo Marin, na CPI do Mensalão. Já tem parlamentar defendendo acareação entre Dantas e Marin, para tentar desvendar a intrincada negociação envolvendo as telefônicas, com dinheiro dos fundos de pensão.

Os fundos passaram a ser os principais alvos das comissões, por suspeita de uso do dinheiro para abastecer os partidos políticos e o mensalão. Ontem, a CPI dos Correios quebrou o sigilo bancário dos fundos de pensão Previ, Centrus, Real Grandeza, Eletros, Serpros, Postalis e Portus, ampliando a devassa para as aplicações de 10 fundos no BMG e Rural. A CPI do Mensalão aprovou requerimentos para também ter acesso à quebra de sigilo dos fundos, feita pela CPI dos Correios.

Os parlamentares irão pedir a Daniel Dantas explicações sobre os R$ 127 milhões que as empresas Telemig Celular e Amazônia Celular aplicaram na DNA Propaganda, de Marcos Valério Fernandes de Souza, o financiador do mensalão. O banqueiro é o maior financiador privado de Valério.

-Dantas representa dois terços da DNA de Valério - compara o deputado Coubert Martins (PPS-BA).

Para a senadora Ideli Salvati, a análise dos depósitos de empresas públicas que investiram nas empresas de Valério pode ser feita através de contratos, o que fica difícil de ser feito com as empresas de Dantas.

- As empresas são as maiores depositantes nas contas do Valério, algo em torno de 150 milhões - diz Ideli.

Há várias outras ligações de Dantas com Valério. A secretária Fernanda Karina Somaggio disse à Polícia Federal que ''o pessoal do Opportunity'' telefonava para a SMP&B tentando agendar encontros com Valério para que este intercedesse junto ao PT para ''favorecer'' o banco de Dantas. Na agenda de Karina, constam seis reuniões de Valério com representantes das empresas de Dantas.

A quebra de sigilo da Telemig poderá trazer novas revelações sobre o esquema de espionagem da Kroll Associates, patrocinado por Dantas. As duas CPIs também poderão esclarecer o envio de dinheiro que Dantas e Valério fizeram para o exterior. As duas comissões, no entanto, não requisitaram o disco rígido do Banco Opportunity, que foi apreendido pela Polícia Federal

No dia 6, a CPI dos Correios colhe o depoimento do ex-presidente do PT José Genoino. Na próxima quarta, serão ouvidos representantes das empresas Garanhuns e Bônus-Banval. A corretora nega qualquer ligação com Valério ou políticos. Em seguida, no dia 6 de setembro, será a vez do ex-ministro Luiz Gushiken. Ele será questionado sobre a interferência d Secretaria de Comunicação de Governo, que ele comandou, nos contratos de publicidade celebrados pelos Correios e outras estatais. Outro que será convocado é o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa.

Em nenhuma das CPIs ficou decidida a data do depoimento de Toninho da Barcelona, que está preso em São Paulo, condenado a 25 anos de prisão por crimes financeiros.

No mesmo dia, na CPI dos Correios, a base de sustentação do governo impediu , por 12 votos a 10, a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Lula, que afirmou ter pago um empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT a Lula. Essa dívida foi quitada em quatro parcelas, entre 30 de dezembro de 2003 e 29 de março de 2004. Durante duas semanas o Planalto e o PT se recusaram a esclarecer a origem desse dinheiro. A oposição não foi convencida pela versão de que Okamotto pagou a dívida e investiga se os recursos saíram das contas de Valério.