Título: Buratti volta a acusar Palocci, mas diz que sua prova morreu
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/08/2005, País, p. A5

Em seu depoimento à CPI dos Bingos, o advogado Rogério Buratti reafirmou ontem a acusação de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebia propina de R$ 50 mil mensais na segunda gestão como prefeito de Ribeirão Preto (SP), em 2001 e 2002.

Segundo Buratti, a empresa Leão Leão, na qual trabalhou, pagava propina para as prefeituras das quais ganhava licitações de recolhimento de lixo.

- A comissão era em cima dos contratos. O dinheiro saía com nota fiscal de prestação de serviço ou então era retirado do caixa da empresa com notas compradas (notas frias).

Buratti afirmou ainda, sem apresentar provas, que R$ 2 milhões teriam sido doados por empresas de jogos para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, e envolveriam um acordo eleitoral que passaria pela regulamentação dos jogos e pela renovação do contrato da GTech com a Caixa Econômica Federal.

- O dinheiro dos Bingos foi para a campanha presidencial.

Ex-secretário da primeira gestão de Palocci em Ribeirão Preto e responsável pela ida do ministro para o centro da crise política por seu depoimento ao Ministério Público paulista há uma semana, Buratti reafirmou que acredita que Palocci sabia do suposto esquema da propina de R$ 50 mil, apesar de dizer nunca tê-lo visto participando das negociações.

- Nenhuma empresa faz uma contribuição nem pequena nem grande sem que o patrão, sem que o prefeito saiba. Nunca vi ele participar de reuniões, mas acredito que ele soubesse.

O advogado disse que suas informações baseiam-se no que ouviu de Ralf Barquete dos Santos, morto por câncer no ano passado.

- Ele não está mais conosco nem sequer para dizer que eu estou mentindo sobre isso.

Afirmou ainda ter conhecimento do caso por ter sido diretor da empresa Leão Leão, chegando a dizer que sabia o nome das pessoas que faziam o pagamento da propina, mas recusou-se a revelá-los.

Barquete foi secretário da Fazenda de Palocci - seria o responsável por arrecadar a propina - e ex-consultor da presidência da Caixa já no governo Lula. Buratti disse que as investigações, com a quebra dos sigilos da Leão Leão, devem provar as acusações.

- Como eu sei que disse a verdade, tenho segurança.

A CPI divulgou uma planilha apreendida na Leão Leão onde aparecem supostos pagamentos mensais de R$ 50 mil à Prefeitura de Ribeirão. O promotor de Justiça Aroldo Costa Filho, de Ribeirão Preto, disse que o documento pode ser uma prova do pagamento.

Buratti também confirmou as ligações telefônicas que fez para Palocci e para auxiliares do Ministério da Fazenda até o ano passado, mas afirmou que nunca tratou de negócios, nem fez tráfico de influências.

- Palocci é uma pessoa extremamente importante para o Brasil nesse momento. Um dos poucos pilares que sustentam o governo de maneira positiva.

A oposição afirmou que pretende aprovar a convocação de Palocci para depor na CPI. Os governistas rebateram dizendo não haver necessidade já que, segundo eles, Buratti não apresentou novidades. (F.P.)