Título: Lavanderia milionária
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 26/08/2005, Rio, p. A13
Uma operação montada por integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público federal revelou, ontem, um esquema milionário de fraudes em licitações para hospitais públicos do Rio. O esquema, que ajudava a sangrar ainda mais o já debilitado sistema de saúde pública, baseava-se em fraudes nas licitações para o serviço de lavanderia das unidades municipais, estaduais e federais. O grupo manipulava, também, as compras de insumos para produção de retrovirais - principalmente os do coquetel anti-aids - pelo Ministério da Saúde e por laboratórios estaduais. Doze pessoas foram presas pela operação, batizada de Roupa Suja. Os procuradores estimam em centenas de milhões de reais a movimentação da quadrilha, que teria começado a atuar em 1992, quando ocorreram os primeiros indícios dos desvios. Um dos acusados está foragido.
- Constatamos que havia um acerto prévio de qual delas seria a vencedora - explicou o procurador Carlos Alberto Aguiar.
A operação Roupa Suja foi desencadeada simultaneamente no Rio, em São Paulo e Goiás para cumprir 13 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Federal. Entre os presos está o dono da empresa Brasil Sul, Altineu Pires Coutinho, que, junto com seu filho Marcelo é o principal responsável pelo esquema, em que os empresários se revezavam na conquista de contratos em licitações para a prestação de serviços de lavanderia dos uniformes hospitalares. Eles combinavam valores muito mais altos para que determinada empresa vencesse a concorrência. Altineu e Marcelo são, respectivamente, pai e irmão do secretário estadual de Infância e Juventude do Rio, Altineu Cortes, que, depois da revelação do escândalo, pediu exoneração à governadora Rosinha Matheus.
- Os empresários faziam o loteamento dos hospitais estaduais, municipais e federais do Rio para que se alternassem no ganho das licitações. Cada empresa já tinha o seu segmento pré-definido. As demais participavam apenas para garantir a legalidade do pregão - explicou.
Também foram presos os empresários Gilberto Silva Corrêa, presidente do Sindicato das Empresas de Lavanderia (Sindlav), que funcionava como sede da organização criminosa, Altivo Bittencourt Pires e Antônio Augusto Menezes Teixeira.
Altineu Pires Coutinho também liderava, junto com o empresário Vitório Tedeschi, proprietário das empresas Brasvit e Hallen Elliot, das quais é sócio, as fraudes em licitações do Ministério da Saúde e de laboratórios estaduais para a aquisição de medicamentos contra aids.
De acordo com o MP, há indícios de que Altineu e Tedeschi possuem empresas em paraísos fiscais e mantêm contas irregulares na Suíça. Ambos, segundo a Polícia Federal, teriam se valido do esquema Banestado e dos serviços de doleiros para remeter dinheiro para o exterior.
- O superfaturamento era absurdo, chegando a até 700% de lucro - disse o procurador da República José Augusto Vagos, que suspeita da participação de servidores.
Outros empresários que tiveram a prisão temporária decretada por envolvimento nesse esquema são o presidente do laboratório oficial de Goiás (Iquego), Darci Accorsi, e Premanandam Modaphohala, dono das empresas Aurobindo e AB Farmoquímica. Também foram presos Flávio Garcia da Silva e Francisco Sampaio Vieira de Faria, gerentes da Brasvit, onde ontem a PF apreendeu R$ 200 mil e 40 mil dólares. Durante a operação, também foram apreendidos documentos, HDs de computadores, agendas e pedras preciosas.
Os empresários presos poderão ser processados por formação de quadrilha, fraude em licitação, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e corrupção. A investigação começou em 2002, quando foram identificados indícios de fraudes em licitações no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into). Desde então, os empresários envolvidos no esquema - alguns já citados na Operação Vampiro, que prendeu fraudadores de licitações de hemoderivados - passaram a ser investigados pelo Ministério Público federal e pela Polícia Federal. No entanto, a Polícia Federal tem informações sobre a atuação de Altineu Pires desde 1992.
- Há ainda indícios de envolvimento dele no escândalo da fraude da licitação da compra de bicicletas pelo Ministério da Saúde, no governo Collor, e de envolvimento com Paulo César Farias - aponta o delegado da PF Marcos David Salém, chefe do Setro de Inteligência da PF do Rio.