Título: Agonia para 2006
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, País, p. A5

A desnutrição do PT nas urnas em 2006 revela-se irremediável. Hoje o partido controla apenas três estados - Piauí (Wellington Dias), Mato Grosso do Sul (Zeca do PT) e Acre (Jorge Vianna). A partir de 2006, a perspectiva é de que não administre mais nenhum, na avaliação do cientista político David Fleischer da Universidade de Brasília. O analista desenvolveu um estudo detalhado sobre os rumos do PT e governo Lula. Das três gestões petistas, apenas uma poderá concorrer à reeleição. A de Wellington Dias. A tarefa, no entanto, não será fácil, segundo o estudioso. A situação é igualmente desoladora nos principais estados do país como o Rio, Minas Gerais e até no Rio Grande do Sul, tradicional reduto petista. As denúncias também comprometeram a imagem do diretório de São Paulo uma vez que a antiga direção, atingida no mensalão, era majoritariamente paulista.

- O PT corre sério risco. Não vislumbro eleição de governador pelo PT - afirmou Fleischer.

A bancada do PT na Câmara, profetiza, deve sofrer uma redução de 50% dos parlamentares. Cairia de 91 para 45. A do Senado, 30%. O PT enfrentará outra dificuldade, na avaliação do cientista, que pode jogar areia nos seus planos eleitorais para o próximo ano: a de celebrar alianças nos estados.

- Muita gente não vai querer coligação com o PT. Em muitos estados aliar-se ao partido pode ser contraproducente - afirma.

O divisor de águas poderá ser as eleições diretas de 18 de setembro. O ex-ministro da Educação e presidente interino da legenda, Tarso Genro, carrega o estandarte da refundação do partido que teria como ponto de partida a perda da influência da antiga direção, encarnada na figura do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Malogrado o intento de Tarso, dez a 15 deputados poderão deixar a legenda, aposta o cientista.

- O PT precisa fazer uma faxina drástica. Um bom começo seria encampar a proposta de Tarso de não dar legenda para quem renunciar.

Mas se o PT beira o abismo, o mesmo não ocorre com o presidente Lula que experimenta um período de reviravolta possível.

- Lula tem chance de dar a volta por cima.

O sucesso, entretanto, está condicionado aos movimentos que fará daqui em diante. Por hora, Lula se esmera em descolar sua figura da do PT. Na lapela, trocou a estrela vermelha pela imagem de Nossa Senhora Aparecida. Também tem evitado, repara o cientista, levar petistas em viagens oficiais país afora.

- Trata-se, sem dúvida, de um movimento emblemático do presidente.

A última pesquisa Ibope apontou um diagnóstico preocupante: de junho a agosto Lula perdeu dez pontos percentuais . Também começa a se cristalizar o chamado efeito ''pedra no lago'', segundo o qual os formadores de opinião passam a influenciar os setores menos favorecidos da população. Eleitores das classes D e E já não nutrem o mesmo entusiasmo pelo presidente.

Em relação ao futuro do presidente Lula e do governo, Fleischer projeta quatro cenários, sempre condicionados ao desenlace das investigações. No caso de Lula continuar sendo o ''presidente Teflon'', ou seja, nada grudar nele e as pesquisas de opinião mostrarem que o eleitorado ainda não o vê envolvido nos recentes escândalos, ele reunirá condições de se reeleger no 2º turno. Nesse caso, Fleischer acredita que fortalecido, Lula efetuaria uma ampla reforma nos ministérios, estatais e fundos de pensão e conseguiria impor agenda positiva no Congresso.

Na hipótese de as CPIs descobrirem o envolvimento de companheiros muito ligados a Lula em todos os escândalos (mensalão, propinas, licitações viciadas), a classe política perderia o controle da situação e a agenda legislativa de Lula ficaria paralisada. Descolado dos escândalos, Lula conseguiria, mesmo a duras penas, manter a sua candidatura à reeleição, mas como consequência, sofreria uma retumbante derrota no 2º turno para uma aliança centrista liderada pelo PSDB, talvez aliado ao PMDB.

O terceiro cenário seria o da renúncia de Lula à reeleição para evitar uma total paralisia de seu governo e tentar eleger um candidato do PT em 2006 porque seus índices de aprovação nas pesquisas desabariam. Nesse caso, prevê o cientista, o PT costuraria uma aliança eleitoral com o PMDB do presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, na vice. Encabeçaria a chapa Tarso Genro, com chances de vitória num 2º turno.

O último e mais devastador cenário se configuraria se as CPIs descobrissem o envolvimento direto de Lula nos escândalos. A possibilidade de impeachment ganharia força e Lula renunciaria ao mandato. Assim, repetiria o cenário de 1992 com o vice-presidente José Alencar (PL-MG) assumindo o restante do mandato, podendo até tentar a reeleição. Esse quadro prevê o remanejamento total do governo e do ministério, além de intervenção brutal sobre a taxa Selic. A hipótese, de acordo com o estudioso, provoca calafrios na oposição e no setor privado. Se Alencar não tentasse a reeleição, abriria chances para um candidato de perfil populista. (S.P. e H.M.)