Título: Indústria refém dos juros
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

A mão que bate é a mesma que afaga. Enquanto o elevado patamar dos juros básicos da economia brasileira foi considerado o grande vilão da atividade industrial no Estado do Rio de Janeiro no segundo trimestre do ano, as projeções de queda da Selic a partir de setembro melhoram as perspectivas dos empresários fluminenses. O setor industrial seguiu em ritmo lento de abril a junho e, na média, todos os indicadores pesquisados pela Sondagem Econômica Regional, elaborada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontaram queda nos seis primeiros meses do ano.

¿ O resultado não surpreendeu. A política econômica apertada foi predominante, apesar do aumento do crédito e das exportações ¿ diz Luciana Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Firjan.

Entre as oito regiões pesquisadas, apenas Baixada I, que engloba as cidades de Itaguaí, Japeri, Mangaratiba, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados e Seropédica, apresentou resultado acima de 50 pontos na avaliação da produção do segundo trimestre. De acordo com a metodologia empregada, resultado acima de 50 pontos indica avanço, enquanto patamar abaixo de 50 significa recuo no indicador.

Segundo Luciana, o resultado de 52,5 pontos registrado na Baixada I é uma boa amostra do efeito da expansão do crédito na economia fluminense. A região tem boa incidência de empresas ligadas ao setor de móveis, cujas vendas dependem intimamente do aquecimento do crédito.

Além disso, a área também foi ajudada pela diversidade. Ao contrário de outras regiões, que concentram seus parques industriais em poucos setores, a Baixada I apresenta grande variedade de empresas.

¿ A região também conta com indústrias de alimentos, vestuário, metalúrgicas e perfumaria, sabões e velas, setores que tiveram alta nas vendas no segundo trimestre ¿ diz Luciana.

Os indicadores de emprego revelam que os trabalhadores tiveram boas notícias na região Centro-Norte no segundo trimestre do ano. De acordo com a Firjan, 32% da amostra pesquisada nos 12 municípios que formam a região é de empresas de vestuário e moda íntima, cujo pólo em Nova Friburgo tem conseguido bons resultados decorrentes da exportação.

¿ O setor de vestuário é intensivo e o fortalecimento das vendas externas parece estar impulsionando o nível de emprego ¿ afirma Luciana Sá.

Mas é exatamente o nível de emprego o indicador que dá esperanças em relação aos próximos meses. As expectativas de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) comece a reduzir os juros, atualmente em 19,75% ao ano, a partir do mês que vem, aliadas à sazonalidade que tradicionalmente aquece a economia no segundo semestre, estimulam empresários a apostar na contratação de mão-de-obra de julho a dezembro.

Embora na média a percepção dos entrevistados em relação aos próximos seis meses seja de queda, quatro das regiões pesquisadas esperam aumentar o ritmo de contratação até o fim do ano.

A Região Centro-Norte, única a elevar o nível de emprego de abril a junho, é uma das quatro onde os empresários esperam contratar no último semestre.

A Região Noroeste é um bom exemplo da expectativa positiva. A área foi a mais afetada no ano passado por ocasião da quebra da gigante de laticínios Parmalat, responsável por grande parte do impulso econômico da região. Agora, a Firjan credita o otimismo em relação ao futuro à sazonalidade da indústria de alimentos, carro-chefe dos 13 municípios do Noroeste fluminense.

¿ A venda de doces e laticínios costuma ter um impulso muito forte por conta das festas de fim de ano ¿ lembra Luciana.

As outras duas regiões que apresentaram aumento das perspectivas de emprego foram Baixada I e Baixada II.

Mas as decisões de governo ainda podem ter forte influência sobre o emprego. Cláudio Tângari, diretor-superintendente da MHS Mecânica Hidráulica e Sistemas, que produz em Nova Friburgo componentes para máquinas e veículos pesados, mudou de opinião desde que respondeu o questionário da Firjan.

¿ Nosso negócio é ligado a obras em estradas. Com a crise política, as contratações pararam. Dei férias a funcionários em julho, mas já tive notícias de que vai haver retomada. A simples expectativa de queda de juros já melhorou o negócio ¿ diz Tângari, que comanda 50 funcionários e fatura R$ 3 milhões por ano.