Título: Petrobras faz economia virar fumaça
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. A19

Ao mesmo tempo em que a Petrobras anuncia reajustes dos preços do gás natural comercializado no país para frear o consumo do produto, a empresa contabiliza um aumento histórico da quantidade do insumo que é queimada no processo de extração do petróleo. Em apenas um ano, a estatal ampliou em 150% - para cerca de 10,1 milhões de metros cúbicos por dia - o total queimado principalmente na Bacia de Campos e em Urucu. Suficiente para colocar por terra o esforço iniciado pela empresa com o programa Queima Zero, adotado por exigência da Agência Nacional do Petróleo (ANP), esse aumento se deve, segundo técnicos, ao esforço da empresa para alcançar a auto-suficiência de petróleo ainda neste ano. Diante disso, a Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (AGNV), que reúne as empresas que participam da cadeia do setor, solicitou à Petrobras a diminuição da queima, como opção ao reajuste dos preços anunciado na última semana.

A estatal anunciou um reajuste em duas etapas, tanto do gás produzido no Brasil (que abastece o Rio) quanto do importado da Bolívia. Na primeira, dia 1º de setembro, o insumo importado da Bolívia sofrerá um reajuste de 13%, enquanto o produzido no Brasil, de 6,5%. Na segunda etapa, em 1º de novembro, o importado será reajustado em 10%, enquanto o nacional subirá 5%.

Com isso, as distribuidoras CEG e CEG-Rio, que abastecem o estado do Rio, comunicaram na semana passada que elevarão os preços do gás de uso industrial, comercial, residencial e automotivo em percentuais que variam de 0,8% a 5,1%. O menor reajuste será aplicado sobre o consumo residencial. Considerando o consumo mínimo de 15 metros cúbicos por mês, a correção representará um acréscimo de R$ 0,36 nas contas.

No último dia 22 de agosto, o presidente da AGNV, Maurício Brazioli, encaminhou uma carta ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, com sugestões para evitar o repasse. Conseguiu, por enquanto, agendar um encontro com o executivo, amanhã, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Ele diz acreditar na possibilidade de as distribuidoras das regiões Sul e Sudeste absorverem os aumentos. Mesmo as distribuidoras fluminenses, segundo ele, poderão voltar atrás. A intenção, revela o executivo, é conseguir, em um primeiro momento, evitar o repasse do primeiro reajuste. O segundo, em novembro, seria discutido posteriormente.

Segundo a AGNV, o país detém, hoje, uma frota composta de 969 mil veículos, que responde por um consumo de 5,190 milhões de metros cúbicos por dia de GNV. Só o Rio dispõe de 360 mil veículos. Ao todo, mais de 1 milhão de pessoas se beneficiam do insumo.