Título: A disputa das águas
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. A22
A disputa no mercado de água mineral ficou ainda mais acirrada com a saída das marcas Caxambu e Araxá das gôndolas dos supermercados. Há mais de um mês, a empresa que engarrafava ambas, a Supergasbras, perdeu, com o fim do contrato, a concessão da exploração dos poços, administrados pelo governo de Minas Gerais. As rivais não perderam tempo e já abocanharam, de acordo com dados do setor, cerca de 30% dos consumidores que bebiam as águas mineiras. No Rio de Janeiro, por exemplo, os dois rótulos detinham cerca de 40% do mercado de vidro e, no geral, que inclui embalagens de plásticos e garrafões de 20 litros, girava em torno de 15%.
A competição, no entanto, promete capítulo extra na terça-feira, data em que o governo mineiro lança o edital para nova concessão de exploração dos poços. É o governo do estado que detém também os direitos do uso das marcas. No mercado, já circula a informação que a antiga concessionária entrará novamente na disputa, revertendo a cessão do contrato.
De acordo com executivos do setor, ao retornarem aos pontos de venda, porém, as duas marcas não devem recuperar toda a participação que haviam alcançado. O motivo é a forte concorrência. No país, existem mais de 400 marcas. Em São Paulo, principal mercado do Brasil, são cerca de 120 marcas. No Rio, outros 60 rótulos. Além disso: grande parte dos consumidores compra a ''garrafinha de água'' apenas pelo preço.
- O segmento de água mineral é muito regionalizado e pulverizado. Os custos com a logística são altos demais e a carga tributária, além da capacidade dos poços, não permite que uma marca seja nacional. Além disso, grande parte dos consumidores escolhe a água pelo preço. Por isso, algumas companhias investem em diferenciação - explica Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira de Águas Minerais (Abinam).
Para Marco Aurélio Ruette, diretor da Lindóia Genuína, a competição no setor é tão forte que basta uma marca sair para outras abocanharem a lacuna deixada por uma empresa. No caso das garrafas descartáveis de plástico, aponta Ruette, a oferta é maior que a demanda. E são os garrafões de 20 litros que mais ganham mercado no setor.
- Temos uma linha completa com mais de 15 embalagens. Vamos lançar o vidro descartável até o final do ano. É um segmento importante dentro de restaurantes, boates e hotéis. Será uma espécie de água premium. A pulverização do mercado é tão grande que queremos sair do comum. Por isso, vamos lançar bebidas funcionais, como água com fibras, além de uma linha de sucos com 12 sabores. Queremos ser uma empresa de bebidas - adianta Ruette.
O mercado de água movimenta no Brasil cerca de R$ 500 milhões. Com volume de 5,2 bilhões de litros, o segmento deve registrar este ano uma alta de 9% nos negócios em relação ao ano passado. No Rio de Janeiro, a alta, devido ao calor, é maior, chega a 15%. Depois da saída da Caxambu, Minalba e Nestlé passaram a brigar pela liderança do mercado carioca.
O mercado de água mineral é o segundo segmento que mais cresce dentro da categoria bebidas não-alcoólicas no Brasil. Nos últimos seis anos, o mercado brasileiro de água mineral expandiu-se a uma média de 13% ao ano, um dos crescimentos mais expressivos no setor de alimentos.
De olho nos números, outra empresa, a Crystal, da gigante Coca-Cola, também aposta em nova embalagem para abocanhar mais consumidores. A mudança incluiu um design mais arrojado, com relevo que remete a cristais. O objetivo, segundo Karla Camargo, gerente de comunicação da Coca-Cola Femsa, é atribuir ao produto qualidades como saúde e jovialidade.
- Além disso, estamos nos diferenciando dos concorrentes. Ninguém pede água por marca, por isso é importante atribuir valores ao seu produto. Só em São Paulo, existem mais de 50 marcas voltadas para a guerra de preços - endossa Karla, lembrando que a empresa espera crescimento de 32% este ano em relação ao ano passado.
A participação da Nestlé Waters no mercado brasileiro é de 1,4%. Na categoria descartável, o share é de 9% - o número engloba as quatro marcas de água da companhia: Nestlé Aquarel (lançada depois que a empresa interrompeu a produção da Purelife), Petrópolis, São Lourenço e Perrier. Com exceção da última, francesa, todas são produzidas no país.
Uma das principais marcas de água da Nestlé Waters no Brasil é a São Lourenço, que recentemente lançou uma edição especial de ''rótulos comemorativos'' da água incentivando o turismo na cidade em que é produzida e mantendo sua participação no mercado em expansão.