Título: Pesadelo dos escândalos agita candidatos da oposição
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 29/08/2005, País, p. A2

A maior crise política e ética enfrentada pelo PT em seus 25 anos de história deu fôlego extra aos principais concorrentes dos outros partidos na disputa pela presidência da República em 2006. Com Luiz Inácio Lula da Silva perdendo o status de candidato ''imbatível'' e caindo na vala dos concorrentes ''comuns'' - segundo análise do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro -, o debate interno sobre a próxima corrida eleitoral ao Palácio do Planalto ganhou força no PSDB, no PFL e no PMDB. O discurso é um só. Representantes dos partidos dizem que, como têm dimensão nacional, apresentarão candidaturas próprias. Afirmam que as investigações de esquemas de corrupção na administração federal criaram uma possibilidade real, não imaginada no início do ano, de ascensão ao poder central. E declaram não mais temer o presidente Lula nas próximas eleições, apesar dos 53 milhões de votos obtidos por ele em 2002.

- O presidente Lula não tem chance de ganhar. O PT pode obrigá-lo a concorrer apenas para eleger governadores, senadores e deputados - diz o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

A euforia é mais incontida justamente no ninho tucano. Dentro do partido, a avaliação é de que existem hoje pelo menos três candidaturas viáveis, as quais têm de ser mantidas até a definição do concorrente tucano. O favorito é o prefeito de São Paulo, José Serra. Tem como trunfo o chamado recall - o eleitorado conquistado nas duas últimas eleições que disputou, a presidencial de 2002 e a municipal de 2004. Além disso, aparece liderando a última pesquisa de intenção de voto divulgado pelo Ibope. Pelo levantamento, realizado entre os dias 18 e 22 de agosto, Serra venceria Lula no primeiro e no segundo turnos, por, respectivamente, 30% a 29% e 44% a 35%.

Pesa em desfavor de Serra a promessa feita, durante a campanha eleitoral do ano passado, de concluir seu mandato à frente da administração paulistana. Nada que não seja ''contornável'', declaram parlamentares favoráveis a Serra. Eles até já cunharam uma espécie de slogan para justificar a quebra do compromisso público: Serra pode fazer mais por São Paulo como presidente do que como prefeito. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também está firme no páreo. Seria o candidato natural do partido em razão do cargo que ocupa.

Conta com o apoio de tucanos de vistosa plumagem, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, hoje fora da disputa. Mas está atrás de Serra e de Lula no Ibope. Em eventual segundo turno contra o presidente da República, o governador paulista perderia por 42% a 31% dos votos válidos. A terceira candidatura considerada viável no PSDB é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que segue na mesma toada de sempre: não se anuncia postulante ao Planalto, mas também não nega tal condição.

Segundo Virgílio, o martelo será batido depois do carnaval de 2006. O critério tende a ser a melhor colocação nas pesquisas eleitorais.

- Eu defendo uma parceria com o PFL. Não se espante se houver um plebiscito (sobre o governo Lula) já no primeiro turno - afirma o líder do PSDB no Senado.

Resta combinar com os colegas de oposição. Antes da eclosão da crise política, o PFL decidiu lançar o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. O objetivo era impedir a vitória de Lula no primeiro turno e tentar tirá-lo do Planalto apoiando os tucanos no segundo turno. O quadro mudou. Os pefelistas dizem acreditar no sucesso da candidatura de Maia.

- Não existe mais, está morto - declara o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, sobre o presidente Lula.

De acordo com o parlamentar, o segundo turno em 2006 será entre PFL e PSDB. No ''melhor dos mundos'', como ele definiu o sonhado embate entre as duas maiores legendas de oposição, os pefelistas sairiam vencedores, pois teriam um programa de governo melhor do que o dos tucanos, que já foi testado no país e reprovado nas urnas. Nem mesmo as intenções de voto em Maia - abaixo dos dois dígitos - esmorecem o presidente do PFL.

- As pesquisas começarão de verdade depois de removida a lama na qual o governo se meteu. Será o momento das comparações, quando o prefeito entrará no páreo por sua capacidade administrativa e honestidade - diz Bornhausen.

Convidado pelo presidente Lula a participar de eventual campanha à reeleição, o PMDB também decidiu fechar as portas para uma aliança eleitoral com o PT por conta da crise política. Mantém apenas o compromisso de ajudar a chamada ''governabilidade''. E já trabalha na definição de seu candidato. O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho aparece como favorito. Pelo menos, por três motivos. Sua pré-candidatura é a única até o momento oficializada no PMDB. Ele já está em franca campanha pelo país. E aparece bem colocado na última sondagem do Ibope, com 10% dos votos, posicionando-se atrás apenas de José Serra e Lula. Em um segundo turno, Garotinho perderia por 40% a 31% do atual presidente da República.

O problema é que o ex-governador enfrenta forte resistência interna. Por exemplo, dos governadores e dos senadores do partido. No primeiro grupo, há interessados em concorrer ao Planalto em 2006, como Germano Rigotto (Rio Grande do Sul) e Roberto Requião (Paraná). Já o segundo grupo lançou, de forma informal, o senador e ex-presidente José Sarney como pré-candidato. Depois de comandar o país na passagem do regime militar para o democrático, Sarney seria o político ideal para fazer nova transição, virando a página dos escândalos de corrupção escrita nos dias que correm. Outro nome forte dentro do PMDB é o do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim.

Segundo o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna, Jobim terá a legenda se os políticos ficarem totalmente desacreditados após concluídas as investigações no Congresso e na administração federal.