Título: Economia supera a preocupação
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 29/08/2005, Rio, p. A13

A notícia de que os carros convertidos para Gás Natural Veicular (GNV) emitem altos índices de formal surpreendeu os motoristas adeptos do chamado kit gás, considerado mais econômico por quem costuma dirigir muitas horas por dia. Foi para economizar que o taxista Jorge Rodrigues, 48 anos, converteu seu Santana para gás, há quatro anos. Apesar de mostrar preocupação com a presença do formol na atmosfera, o taxista revela que pretende ignorar os possíveis riscos à sua saúde e continuar usando o kit gás para trabalhar.

Jorge, que dirige cerca de 15 horas, diariamente, conta que com o GNV economiza R$ 60 por cada dia de trabalho. Ele investiu R$ 2 mil para converter o carro para gás natural.

- Economicamente não vejo solução para este problema. Prefiro correr o risco e continuar absorvendo o formol - disse Jorge, que sugeriu que as fábricas deveriam criar uma peça para ser adaptada aos veículos convertidos e resolver o problema.

O representante comercial, Marcelo Gonçalves, 34, conta que também adotou o kit para economizar. Muitas vezes, ele precisa dirigir por até 10 horas.

- Fico preocupado com esta informação. Como os órgãos fiscalizadores deixam passar esta emissão durante a vistoria? - questionou.

O vendedor André Luiz Pessoa, 32, faz cálculos para provar as vantagens do kit. Usando gasolina, ele gasta R$ 80 para ir e voltar de Saquarema, na Região dos Lagos. O mesmo percurso com o veículo no GNV custa R$ 11.

- Por enquanto, o custo benefício do carro convertido para gás natural é maior. Apesar dos riscos, não vou deixar de usar - garantiu o vendedor.

Motorista de táxi há 10 anos, Rubens Ferreira, 58, também não voltaria a abastecer com gasolina. Ele acaba de comprar um carro que virá com o GNV direto da fábrica.

- Por enquanto, dirijo 16 horas por dia e não sinto nada - disse o taxista.

O motoboy Sérgio Pinto Coutinho, 40, que tem uma van movida à diesel, usaria GNV se pudesse fazer a conversão.

- Mesmo sabendo dos riscos que o formol pode trazer, eu não pensaria duas vezes para converter o meu veículo para o gás. Iria economizar muito - contou.

Além dos motoristas, frentistas que trabalham nos postos de gasolina se mostraram preocupados com o perigo da emissão do formol pelos carros GNV.

- Respirar este ar é ter uma morte lenta - disse um frentista, que não quis se identificar.