Título: ''O governo não está paralisado''
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 29/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

Pela primeira vez em 53 anos de história, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai mostrar quantos empregos gera a partir dos investimentos que apóia ¿ graças aos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O fundo é responsável por mais da metade dos recursos da carteira do banco, responsável por mais da metade dos R$ 126 bilhões em financiamento que estão em curso. O presidente do BNDES, Guido Mantega, revela que o Conselho de Administração do BNDES aprovou na última reunião a divulgação de dados consolidados sobre emprego e renda dos projetos apoiados pelo banco. A medida atende a uma reivindicação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

¿ É uma satisfação demonstrar como os investimentos que o banco estimula geram emprego.

O impacto do BNDES sobre o mercado de trabalho é uma entre as dezenas de questões que colocam Mantega na pauta da política econômica. Outra é o superávit primário, que, segundo o economista, não criou divergências entre ele e o ministro Antonio Palocci. De acordo com Mantega, Palocci não propôs aperto nas metas fiscais, para 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A pressão vem do mercado, de analistas e economistas interessados em aproveitar a economia extra que foi feita ao longo deste ano (da ordem de 5,1% do PIB). Além do mais, uma discussão sobre o tema pouco faria diferença, pois quem bate o martelo é o próprio presidente, garante.

¿ Quem dá a última palavra é o presidente. Pode até haver discussão técnica (e vou te dizer que há concordância nessa questão), mas é o presidente quem dá a última palavra ¿ destaca.

Cabe a Lula também a destinação do lucro recorde do BNDES, de R$ 1,8 bilhão no primeiro semestre. De um lado, o banco de fomento quer o dinheiro para se capitalizar. De outro, o Tesouro quer economizar para fazer o superávit primário. O banco perdeu a disputa no ano passado, quando viu quase todo lucro cair nos cofres do Tesouro. Mesmo com a derrota, Mantega saiu em defesa do governo: ¿Foi necessário¿.

Mas defesa mesmo ocorre contra os ataques da oposição a Lula, feitos na semana passada.

¿ A prova de que o governo não está paralisado é que a economia está crescendo. O vigor da economia se dá por causa da ação do governo.

Jornal do Brasil ¿ O senhor tem apresentado propostas alternativas e complementares à política econômica executada pela Fazenda. É verdade que as suas declarações têm funcionado como uma espécie de voz embargada do presidente Lula? Guido Mantega ¿ Eu acredito que não porque o presidente fala por si. A voz do presidente é dele mesmo, e uma voz muito eloqüente.

Mas ele não tem falado muito. ¿ Ontem (na última quinta-feira) ele fez um discurso muito bom no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Na verdade, eu falo e reproduzo a estratégia de política econômica que é estabelecida pelo presidente. Fui ministro de Planejamento e participei da elaboração desses projetos e da sua política, e agora aqui no BNDES, mantenho ainda um estreito relacionamento com a equipe econômica e o presidente. Não sou voz, apenas ajudo a esclarecer alguns aspectos da política econômica, mas o ministro Palocci está toda hora falando e o ministro Furlan (Desenvolvimento) também.

Há quem defenda, dentro do governo, a definição de metas de emprego, assim como há o regime de metas de inflação. A inflação deve continuar sendo o único alvo a se perseguir? ¿ A meta de inflação não é o único alvo perseguido pelo governo, e sim único alvo do Banco Central. Essa é a sua função. Mas outros órgãos do governo têm suas metas a perseguir. O Ministério do Desenvolvimento Social tem como objetivo conceder até o fim deste ano 8,5 milhões de Bolsas Família. O Ministério de Desenvolvimento Agrário tem uma meta de assentamentos e a persegue com bastante eficiência. Cada órgão do governo tem uma meta a perseguir. O Ministério da Fazenda e do Planejamento têm uma meta de cumprir o superávit primário de 4,25% do PIB. O Ministério dos Transportes tem que perseguir investimentos para a recuperação de estradas. O Ministério da Integração Social tem a meta de fazer a revitalização do São Francisco...

O senhor diz que não é a voz embargada do presidente mas parece transparecer com mais fidelidade os princípios da economia proposta pelo PT no início do governo. ¿ Veja, eu penso parecido com o presidente, eu sou seu assessor. Mas quem determina as metas, a política a ser feita é o presidente. Quando a gente vai discutir uma meta de superávit primário, quem dá a última palavra é o presidente. Pode até haver discussão técnica, e vou lhe dizer que há concordância nessa questão, mas é o presidente quem bate o martelo. Se por um acaso há discordância, ele é o árbitro. Então não tem a minha opinião ou a do Palocci; a nossa opinião reproduz a opinião do presidente.

Então o senhor quer dizer que não houve divergência sobre o superávit. O ministro Palocci não sugeriu um superávit de 5% do PIB? Nem para 2006? ¿ Para o ano de 2005 eu não vi o ministro sugerir esta meta. A LDO acabou de ser aprovada (parâmetros para 2006) e o superávit será de 4,25% do PIB. A equipe econômica está toda sintonizada.

Se não há pressão da Fazenda, há pressão do mercado e de vários analistas, que levantaram a questão de transformar a suposta sobra do superávit para apertar a meta. ¿ Isso, sim, está acontecendo. Tem pessoas defendendo uma meta superior a 5%, mas eu não concordo. Há quem pense que um superávit de 6% provocaria a queda automática dos juros. Eu não acho.

Na prática, o Brasil está conseguindo um superávit acima de 5% e o Ipea, por exemplo, estima que o governo terá cerca de 0,7% do PIB para fazer o que quiser. O que deveria ser feito? ¿ Se houver um excedente, ou seja, uma arrecadação maior, isto deveria ser direcionado para fazer investimentos.

O BNDES já começou a pleitear a incorporação do lucro histórico de R$ 1,8 bilhão no primeiro semestre para capitalizar a instituição? ¿ Já. O entendimento é que 25% do lucro seja transformado em dividendos para o nosso acionista majoritário (o governo). O restante vai para a capitalização do banco. No ano passado não foi assim, foi repassado quase integralmente ao Tesouro porque houve uma necessidade de se gerar recursos para viabilizar determinados projetos do governo.

Houve briga? Quem definiu foi o Lula? ¿ Não houve briga e foi o presidente quem determinou.

Então, quem decidirá novamente será o presidente? ¿ Sim, e eu acredito que os recursos ficarão no banco pela necessidade de capitalização que temos. Quanto mais melhor. Além da absorção do lucro, existe um pleito para que uma parte do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) em nosso poder seja contabilizado como capital de nível 2 e reforce o patrimônio de referência.

Será que o banco não deveria mostrar ao trabalhador de maneira mais consolidada e clara quanto ele contribui para a geração de empregos, já que o FAT é seu principal financiador? ¿ A medida foi solicitada na última reunião do conselho e o banco tem esses dados. A informação apenas não tem sido divulgada. Não havia essa demanda, mas agora será divulgado. Nós temos a base de dados.

Quem tomou a iniciativa? ¿ Foi o ministro do trabalho (Luiz Marinho). A maioria dos projetos já detalha a quantidade de empregos.

A partir de quando? Há algum número já disponível? ¿ Prefiro não marcar uma data, só tenho dados parciais. Mas será ainda este ano, com certeza.

Qual é o objetivo? ¿ Demonstrar o efeito que o banco tem sobre a geração de emprego. É uma satisfação demonstrar como os investimentos que o banco estimula geram emprego.

Quanto da carteira total do banco, em financiamento, a cada ano tem do FAT? ¿ Hoje, temos R$ 70 bilhões do FAT, dos R$ 126 bilhões totais.

Como o senhor encara as acusações da oposição, de que o governo está paralisado e que Lula não trabalha? ¿ Isso é uma grande bobagem, talvez mais um desejo de alguém que gostaria de ver o governo paralisado ou que tem inveja porque no seu governo, as coisas não funcionavam. A prova de que o governo não está paralisado é que a economia está crescendo. Quem falou isso não conseguia produzir o vigor que a economia tem hoje, e ele se dá por causa da ação do governo. Lula sempre acorda às 6h da manhã, o mesmo não acontecia com outros presidentes, que tomavam banho de piscina aquecida. Se estamos paralisados, o governo anterior era uma múmia.