Título: Sistema educacional se adapta, com escolas inclusivas
Autor: Bruno Arruda
Fonte: Jornal do Brasil, 29/08/2005, Brasília, p. D3

Muito lentamente, a educação formal para portadores de deficiências deixa de ser um tabu. A intenção da Secretaria de educação do DF é transformar as 650 escolas públicas de ensino fundamental e médio em escolas inclusivas até o fim do ano que vem. Na prática, isso significa que se está preparando essas escolas para receber alunos com necessidades especiais. No ensino superior, simultaneamente, também há melhoras sensíveis - o número de deficientes saltou de 13, em 1999, para 72, este ano.

Conforme o censo escolar de 2004, 6.296 alunos estão matriculados nos 13 centros de ensino especializados em portadores de necessidades especiais da rede pública. Outros 1.101 na rede privada conveniada. Além deles, 676 estão matriculados em alguma das 122 escolas já adaptadas para serem inclusivas. E 3.916 estão matriculados em salas de aulas comum, com ou sem auxílio de especialistas.

- As escolas inclusivas têm salas de apoio, com professor específico para acompanhar o ao aluno especial. As crianças têm a chance de se integrar com as não-portadoras de deficiências, mas têm também uma adaptação curricular de acordo com a sua especificidade - explica Janda Maria da Silva, assistente da Diretoria de Ensino Especial.

As escolas sem adaptações que recebem alunos especiais são classificadas como integradoras. Nelas, os alunos têm de se adaptar às condições. Equipes de avaliação da Secretaria de Educação encaminham para essas escolas alunos com possibilidade de adequação.

- Essas crianças podem aprender tudo e atuar em qualquer área, dentro da limitação delas - disse Janda.

A própria assistente admite que a meta de ter uma rede pública toda inclusiva está em horizonte distante. Com apenas 20 funcionários fixos mais os professores itinerantes, que acompanham os alunos especiais nas escolas e fazem a ponte com a diretoria de ensino especial, falta estrutura para as complicadas mudanças necessárias.

Aos que conseguem ultrapassar toda a longa jornada do ensino básico, o ingresso no ensino superior tem sido facilitado. Para Eneida Bueno vice-coordenadora do Programa de Apoio a Portadores de Necessidades Especiais da UnB (PPNE, criado em 1999), isso explica fato de quase seis vezes do número de deficientes na universidade.

- Os vestibulares têm sido mais acessíveis. Há provas e salas especiais, que colaboram com a condição dos estudantes. Agora, o esforço é para manter esses alunos na universidade - explicou Eneida.

O PPNE intervém para melhorar a vida desses estudantes: solicita a mudança das salas de aula quando alunos paraplégicos não têm acesso à sala originalmente definida, pedem reformas, preparam os funcionários da universidade para lidar com as diferenças e elaboram programas especiais.

A menina dos olhos do grupo é a Tutoria Especial. Nele, deficientes visuais contam com os próprios colegas para acompanhar as aulas. Os voluntários ganham dois créditos ou uma bolsa e gravam em áudio ou digitalizam os textos necessários. Este semestre, 33 tutores já se inscreveram.

Janaína de Almeida Souza, de 20 anos, estudante de Pedagogia, descobriu a área em que atuará ao ser tutora nas versões-piloto do programa. Quer continuar na área de educação especial quando se formar.

- Depois da tutoria, fiz curso de Braille e hoje sou instrutora no Laboratório de Atendimento ao Deficiente Visual do PPNE - contou Janaína.

O próximo passo do PPNE também será voltado para os cegos: com apoio do MEC, será preparada, até março, uma audioteca. O material em áudio gravado em CDs por voluntários da própria universidade estará disponível a todos os interessados. (BA)