Título: Placebo é analgésico natural
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 30/08/2005, Saude & Ciência, p. A12

Simplesmente acreditar que se está tomando um remédio contra a dor é o suficiente para provocar uma sensação de alívio. Experiência realizada pela Universidade de Michigan apontou, pela primeira vez, uma evidência química para a eficácia do placebo (medicamento inócuo e sem componentes ativos, usado em testes comparativos) no organismo.

- Demonstramos que os efeitos analgésicos do placebo não se devem à inclinações pessoais ou fatores subjetivos, mas a específicos circuitos cerebrais e a processos de neurotransmissão - afirma ao JB Jon-Kar Zubieta, coordenador da pesquisa e professor de psiquiatria da universidade.

A pesquisa, divulgada semana passada pelo Journal of Neuroscience, observou que o sistema de endorfinas - um analgésico natural - era ativado nas áreas do cérebro relacionadas à dor . A atividade é intensificada quando alguém acha que recebe um medicamento.

- As endorfinas são substâncias do sistema nervoso central, que se ligam às células responsáveis pela transmissão da dor inibindo que esta aconteça - explica Getúlio Daré, neurologista e membro do Departamento Científico de Dor da Academia Brasileira de Neurologia.

Denominados de opiáceos endógenos ( do próprio organismo), estas têm uma ação similar a da heroína, morfina e analgésicos.

Quatorze homens saudáveis, de idades entre 20 e 30 anos, receberam injeções no músculo da mandíbula, com uma solução salina. O procedimento provoca sensação muito desagradável.

Enquanto isso, o voluntário tinha o cérebro ''escaneado'', através de um exame chamado PET, um tipo de tomografia. Durante o monitoramento, uma injeção na veia era dada a cada quatro minutos. Esta não continha nenhum princípio ativo - apenas soro - , mas aos participantes era dito que tratava-se de um analgésico.

A cada 15 segundos, era pedido aos indivíduos que medissem sua dor em uma escala de 0 a 100. As classificações e as tomografias foram comparadas em dois momentos. Havia uma significativa diferença, entre os exames, após a infusão de placebo e após a injeção de solução. Todos os participantes apresentaram reação a este.

- A ligação entre mente e corpo se estabelece de forma bem clara - observa Zubieta - É um sério golpe na idéia que o efeito placebo é puramente psicológico, sem uma base física.

Nove homens foram classificados como ''altamente sensíveis ao placebo'', por sua reação muito forte a ele. Os outros cinco foram classificados como ''pouco sensíveis''.

Exemplos dessas eficácia do placebo no combate a dor podem ser percebidos no dia-a-dia. A aposentada Maria Alcina Cunha, de 60 anos, não gosta muito de remédios. Por isso para tratar a dor de cabeça de sua filha recorreu a uma alternativa:

- Dei a ela água com açucar e disse que era remédio. E funcionou - conta.

A publicitária Rosilene Mendes, de 39 anos, confirma o achado denominado pelos pesquisadores de ''efeito placebo'':

- Uma vez ia viajar de avião e estava com muita dor de cabeça. Quase na mesma hora que tomei o analgésico, melhorei. Mas não sei se chegou a agir, mesmo, tão rápido.