Título: Varig teme pouso forçado
Autor: Ricardo Rego Monteiro e Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 30/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

Sem um Plano B que garanta condições financeiras de continuar a voar com segurança, a Varig corre o risco de ter as operações suspensas caso não consiga vender a VarigLog. O alerta, do presidente do Conselho de Administração da empresa aérea, David Zylbersztajn, foi feito depois que a juíza Giselle Bondim Lopes Ribeiro, da 19ª Vara da Justiça do Trabalho no Rio, concedeu ontem uma liminar que suspendeu a venda da subsidiária de cargas por US$ 88 milhões ao fundo americano Matlin Patterson, por meio do arresto de bens móveis e imóveis da VarigLog e da Varig Engenharia e Manutenção (VEM).

Zylbersztajn criticou duramente o autor da ação, a Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Fentac), a quem classificou de irresponsável pela iniciativa.

Ele afirmou que, diante das acusações da Federação, poderá até entrar com ação judicial reparatória, em nome da diretoria da companhia. Isso porque, na ação, a atual diretoria é acusada de querer vender os ativos saudáveis da Varig para decretar sua falência.

- A Varig não tem Plano B. Já falei para o pessoal que está sendo contra para eles apresentarem o plano que quiserem. Esse tipo de coisa começa a estancar a capacidade da empresa de alavancar recursos e vai ter conseqüências principalmente porque ninguém apresenta outro tipo de solução - disse Zylbersztajn.

Preocupado com o futuro da companhia, que tem até 12 de setembro para apresentar o plano de reestruturação para a 8ª Vara Empresarial do Rio, Zylbersztajn, que participou ontem de almoço com empresários do setor de energia, no Rio, chegou a questionar o que classificou de ''interesses particulares envolvidos'' por trás das ações judiciais.

- Estão brincando para jogar para a platéia. Desconfio da sinceridade disso. Tem mais interesses particulares envolvidos do que interesses da empresa - afirmou, ao não poupar nem mesmo o administrador judicial, responsável por outra ação, que pede a destituição dos atuais controladores da Varig.

- Está havendo um exagero da parte dele. É desproporcional, inadequado e acho que causou um dano muito ruim para a imagem da empresa, desnecessariamente - completou.

E a deterioração operacional pode não demorar. Amanhã, o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, vai a Nova York para tentar convencer o juiz de falências da cidade a prorrogar a proteção contra pedidos de seqüestro de aeronaves.

Desde que a Varig entrou em processo de recuperação judicial, em junho, a International Lease Finance Corporation (ILFC) tenta reaver, por falta de pagamento, seus 11 aviões arrendados à companhia brasileira. O juiz nova-iorquino, no entanto, garantiu a manutenção das aeronaves até 31 de agosto, uma vez que a empresa estaria protegida pela legislação.

- Teremos que provar ao juiz que vamos quitar as parcelas atrasadas e honrar os pagamentos futuros. A venda da VarigLog é essencial. Sem ela, podemos perder a proteção - disse Carneiro da Cunha, acrescentando que a Varig recorrerá da decisão que proibiu a venda da subsidiária.

Carneiro da Cunha também foi duro com a postura da Fentac.

- Gostaria que o sindicato me explicasse como eu vou fazer para pagar os salários dos funcionários e a manutenção das aeronaves. Se houver proposta melhor que a do Matlin Patterson, que ela seja apresentada ou então que ninguém atrapalhe - criticou Carneiro da Cunha.