Título: A revolta contra Severino
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, País, p. A2

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), passou o dia sendo criticado pelas declarações de que a confissão do crime de de uso de caixa 2 nas campanhas não é suficiente para cassação. Foi à tribuna defender-se dos ataques e conseguiu piorar ainda mais um cenário que já estava péssimo. Afirmou que não haverá pizza e acrescentou que não é um desequilibrado. Prometeu punição aos culpados, mas adiantou que não encaminhará ''inocentes para o cadafalso''. Severino, no entanto, esqueceu de retratar-se quanto à punição mais branda para os envolvidos com corrupção. E foi rechaçado. O deputado da bancada do Rio Fernando Gabeira (PV) foi ainda mais incisivo.

- Ou Vossa Excelência se cala, ou teremos que iniciar um movimento para derrubá-lo - disse Gabeira. O líder da minoria, José Carlos Aleluia (BA), afirmou que, caso não tenha cuidado, Severino poderá ser convocado para depor na CPI do Mensalão.

O plenário estava relativamente cheio quando Severino começou o discurso. Repeliu as afirmações veiculadas na imprensa de que a Presidência da Câmara estaria apoiando manobras regimentais para produzir uma operação-abafa. Disse que estas afirmações são ''eivadas de erros'' e que, no exercício da presidência, tem o dever de ''zelar pelo fiel cumprimento da Constituição Federal e do Regimento Interno''.

- Não há que se falar em operação-abafa ou em terminar em pizza. Não enquanto eu for presidente - assegurou Severino.

O presidente da Câmara expôs aos deputados a regra de tramitação dos processos de cassação. Severino encerrou sua fala e começou o bombardeio. O primeiro a atacar o presidente da Casa foi o líder da minoria José Carlos Aleluia (PFL-BA) que criticou as declarações de Severino de que caixa 2 é merece, no máximo, uma advertência. Foi obrigado a ouvir uma aula de regimento.

- Nosso código de ética prevê que advertência só pode ser aplicada em relação a comportamentos no plenário. Receber dinheiro ilegal é grave, a sociedade não aceita essa operação-abafa - devolveu Aleluia.

O pefelista afirmou também que Severino arriscou-se, de maneira desnecessária, ao declarar que houve compra de votos para a emenda da reeleição de Fernando Henrique e que não seria nada bom, para a Câmara, ver o presidente da Casa sendo convocado a depor na Comissão de Inquérito.

O deputado Fernando Gabeira por sua vez acusou Severino de proteger fazendas que praticam trabalho escravo. E classificou como ''um desastre para o país'' a gestão de Severino como presidente da Casa.

- Só não faço representação contra o senhor no Conselho de Ética porque sou apenas um deputado, isolado - justificou.

Severino arrematou.

- Vossa Excelência, recolha-se à sua insignificância.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) afirmou que ''quando Severino assumiu a presidência, o Brasil tinha consciência de que lhe faltava estatura para sentar-se à cadeira''. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), esquecendo que pefelistas e tucanos votaram no parlamentar do PP, afirmou que os cafés de Severino com o presidente Lula fizeram com que compartilhassem delírios.

- Eles não vivem no mesmo país em que vivemos.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) aposta que Severino sucumbiu às pressões de correligionários suspeitos.

- Ele é um dos remanescentes deste país anacrônico e patrimonialista, que, felizmente, está morrendo - apostou.