Título: Costa Neto teria recebido R$ 4 milhões da Guaranhuns
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, País, p. A4

Sócio da Guaranhuns Empreendimentos, José Carlos Batista confirmou ontem à CPI do Mensalão ter repassado R$ 4 milhões para o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto para pagar dívidas de campanhas do PT e do PL. O dinheiro pertencia à agência de publicidade SMPB, de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. O ex-deputado - eleito pelo PL de São Paulo - negara ter recebido dinheiro da Guaranhuns após renunciar ao mandato.

Além da confirmação de distribuição de dinheiro para partidos políticos, o empresário José Carlos Batista deu pistas do envolvimento de partidos com um suposto esquema internacional de lavagem de dinheiro. Alguns parlamentares já pensam em enviar uma comissão ao Uruguai para investigar o caso.

- A mesma estrutura que lavou dinheiro do narcotráfico foi utilizada neste esquema - diz o deputado Moroni Torgan (PFL-CE).

Batista foi indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, sonegação e crime contra o sistema financeiro no início do mês. Além de sociedade na Guaranhuns, ele mesmo apresentou documento notarial do Uruguai onde é designado representante da Assembléia Geral de Acionistas da Esfort Trading, envolvida com lavagem de dinheiro do narcotráfico, segundo parlamentares da CPI.

Batista começou a trabalhar com o PL em 2001. Na época, ele operava no mercado financeiro em favor do deputado Moisés Lipnik, morto em 2003, conforme cópia de depoimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o empresário entregou à CPI. Mas foi com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza que os negócios da Guaranhuns prosperaram.

A CPI recebeu das mãos de Batista cópia de um ''contrato particular de intermediação de aquisição de ativos financeiros e outras avenças'', assinado por Valério e Batista. A data do contrato é de 1º de novembro de 2002, o documento não tem, no entanto, firmas reconhecidas.

O contrato com Valério prevê a ''intermediação'' da Guaranhuns na aquisição de ''certificados de participação em reflorestamentos - nominativo endossável''. O crédito a ser adquirido pela empresa de Batista atingiria o montante de R$ 10 milhões. Para alguns parlamentares, o contrato pode ter sido uma invenção para criar uma falsa origem para o dinheiro lavado no mercado financeiro e distribuído aos partidos.

- Este Batista é um laranjal. Estes títulos de reflorestamento são uma desculpa. O Batista é a porta de entrada do PL no esquema de Marcos Valério e companhia. Ele acaba complicando mais o PL - diz o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

Batista se recusou a responder a várias perguntas feitas pelos deputados, inclusive sobre o local preciso da sede da empresa Guaranhuns. Batista afirmou que a empresa fica na Avenida Paulista, em um ''conjunto'' comercial emprestado por sua irmã. Batista demonstrou bastante nervosismo durante o depoimento e irritou os parlamentares da CPI do Mensalão. O deputado Gastão Vieira (PMDB-MA) disse a Batista que o empresário é ''um laranja que vai virar suco'' após o depoimento. O parlamentar acha que o sócio da Guaranhus deu pistas sobre a lavagem.

- O importante agora é quebrar o sigilo de corretoras que operaram com os fundos de pensão - diz Gastão.