Título: Lula reconhece que crise é ''grave''
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, País, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu, ontem, que a atual crise ''é extremamente grave'' e voltou a defender a punição dos culpados e desculpas aos acusados que se provarem inocência. O presidente participou, juntamente com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), da cerimônia de ampliação do aeroporto de Uberlândia (MG).

Antes de iniciar seu discurso, Lula defendeu Aécio Neves, que foi vaiado por cerca de quatro minutos enquanto tentava discursar. O presidente chamou o governador mineiro para ficar ao seu lado e repreendeu os ouvintes dizendo se sentia ''desconfortável'' com a hostilidade ao governador.

- É muito desagradável um presidente estar em uma inauguração e presenciar cena como essa. A gente pode continuar com as nossa convicções, mas gostaria de levar em conta que o respeito às pessoas é condição básica. Não quero que ninguém goste mais de mim ou mais do Aécio - disse o presidente ao lembrar que nem ele nem o governador estavam em campanha.

Lula citou novamente o ex-presidente Juscelino Kubitschek ao se dizer perseguido e repetiu que adotará a paciência do ex-presidente. Mais uma vez cometeu equívocos, ao sugerir que Juscelino tivesse sido derrotado por Jânio Quadros, quando ele não concorreu à Presidência em 1960, e dizer que João Goulart, deposto por um golpe de Estado, foi cassado.

Ao dizer que as denúncias com fundo ''ético'' surgiram depois que o apontaram como ''imbatível'' nas urnas, Lula fez um apelo para que o povo não confiasse em todo conteúdo da imprensa:

- Por isso, toda vez que vocês virem uma notícia muito escandalosa, analisem-na, leiam duas vezes, vejam se tem verdade ali. Porque, quem me conhece sabe como eu sou, começaram a mexer na questão ética para ver se colocavam desconfiança na sociedade - alardeou.

Retomando sua estratégia de se mostrar atuante nas investigações, Lula disse que em momentos de crise é preciso ter paciência e usar os instrumentos do Estado para investigar as denúncias. Citou a Controladoria Geral da República, a Polícia Federal, o Ministério Público e as CPIs.

- Estou pedindo a Deus que essa CPI apresente quem são os culpados, que a Justiça julgue os culpados, e quem cometeu erro. Quem cometeu qualquer crime contra o patrimônio público seja duramente punido - disse o presidente.

Lula criticou as denúncias ''levianas'' e citou os casos do ex-ministro da Saúde Alceni Guerra, acusado de compra de bicicletas superfaturadas no governo de Fernando Collor, e da escola de base em São Paulo, cujo dono foi acusado de pedofilia. Ambos foram inocentados das acusações.

- Nós precisamos criar um instrumento de pedido de desculpas, daqueles que, levianamente, acusam os outros e depois não têm coragem de dizer que acusaram de forma leviana, pessoas que são crucificadas - disse.