O Estado de S. Paulo, n. 46635, 23/06/2021. Internacional, p. A12

Presidente filipino ameaça prender quem não se vacinar



O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, ameaçou prender quem se recusar a ser vacinada. A ideia é parte da estratégia do governo para superar a desconfiança da população com relação aos imunizantes. “Vou ordenar a prisão deles”, disse Duterte. “Agora, escolha – seja vacinado ou o trancarei em uma cela. Se você não quiser ser vacinado, vou prendê-lo e aplicar a vacina em suas nádegas.”

Duterte também expressou impaciência com qualquer tipo de sentimento antivacina. “Se você não se vacinar, saia das Filipinas. Vá para a Índia, se quiser, ou para algum lugar da América.” O secretário de Justiça, Menardo Guevarra, afirmou ontem que rejeitar a vacinação não é contra a lei. “Acredito que o presidente apenas usou palavras fortes para enfatizar a necessidade de sermos vacinados e alcançar a imunidade coletiva o mais rápido possível”, disse. “Como advogado, ele sabe que não ser vacinado é uma escolha legal.”

Mas uma mudança na lei pode estar a caminho. O porta-voz do governo, Harry Roque, disse ontem que o Congresso poderia aprovar uma lei para obrigar a vacinação. “Precisamos de uma portaria ou lei que imponha uma pena àqueles que não quiserem ser vacinados”, disse. “É fácil solicitar isso ao Congresso, porque os congressistas sabem da importância da vacinação.”

Desde a pandemia, Duterte, conhecido por sua sangrenta guerra contra as drogas, que deixou milhares de mortos, em grande parte respondeu à crise de saúde com punho de ferro – ordenando a prisão de violadores de quarentena e de pessoas que não usavam máscaras corretamente.

O presidente não inspirou muita confiança no programa de vacinas do governo, dizem seus críticos, já que ele expressou publicamente apoio a agentes de segurança que tomaram vacinas contrabandeadas. Duterte insistiu em ser vacinado com a Sinopharm, uma vacina chinesa que na época não havia sido aprovada para uso emergencial nas Filipinas.

Cerca de 6 em cada 10 filipinos não querem ser vacinados contra a covid-19, apesar de manifestarem preocupação em contrair a doença, segundo pesquisa da Pulse Asia Research, do início do ano.

O ceticismo em relação às vacinas aumentou nas Filipinas após uma polêmica, em 2017, envolvendo a vacina contra a dengue Dengvaxia, que foi administrada a milhares de estudantes. Depois que a farmacêutica Sanofi Pasteur anunciou que ela poderia causar casos graves de dengue entre aqueles que não haviam contraído a doença anteriormente, o Ministério Público alegou prematuramente que a vacina estava ligada à morte de algumas crianças. A população entrou em pânico e as taxas de vacinação caíram, provocando surtos de sarampo e pólio.

No entanto, um obstáculo tão grande quanto o ceticismo é a falta de vacinas. De 108 milhões de filipinos, apenas 6,2 milhões receberam pelo menos uma dose. As Filipinas experimentaram um dos piores surtos de coronavírus no Sudeste Asiático no ano passado, registrando 1,3 milhão de casos e mais de 23 mil mortes. / WP

Pressão

“Se você não quiser ser vacinado, vou prendê-lo e aplicar a vacina em suas nádegas”

Rodrigo Duterte

Presidente das Filipinas