Título: Guarda presidencial suspeita
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Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, Internacional, p. A9
O comandante da guarda do presidente libanês e quatro ex-chefes de segurança do país foram detidos ontem por envolvimento com o assassinato do primeiro-ministro, Rafik Hariri, em fevereiro. Foi a maior operação da investigação do caso desde o atentado a bomba que matou 21 pessoas, incluindo o premier, e teve a responsabilidade atribuída à Síria.
Todos os detidos são conhecidos por suas posições de apoio à Síria, que negou envolvimento, mas foi alvo de críticas por prejudicar o trabalho dos investigadores da ONU.
Três homens foram detidos pela polícia e outros dois se apresentaram voluntariamente após receberem ordem de prisão da Justiça libanesa. O ex-chefe da Segurança Geral, Jamil al-Sayed; o general Raymond Azar, ex-funcionário da Inteligência Militar; e o ex-diretor de Segurança Interna, Ali al-Hage, foram capturados. Já o general Mustafah Hamdan, chefe da guarda presidencial, e Nasser Qandil, ex-deputado, se apresentaram à polícia.
Os suspeitos foram levados à sede da Comissão de Investigação Internacional (CII), em Monteverdi, ao Nordeste da capital Beirute, e estão sendo interrogados por uma equipe da ONU, que cuida do caso.
Sayed é tido como o homem mais poderoso da segurança libanesa depois do fim da guerra civil, em 1990. Ele e outros detidos, com exceção de Hamdan, pediram demissão depois das manifestações anti-Síria que seguiram ao assassinato, as maiores da história do Líbano.
Hamdan, nomeado em 1998 à direção da guarda pelo atual presidente, Emile Lahoud, já havia sido interrogado como suspeito pela comissão, quando afirmou que não renunciaria.
Outras duas pessoas, não identificadas, também tiveram a prisão decretada, mas ainda não se apresentaram.
O chefe da CII, o promotor alemão Detlev Mehlis, tem de entregar um relatório sobre o assassinato de Hariri para o Conselho de Segurança nas próximas semanas. A investigação estava prevista para terminar em 15 de setembro, mas poderá se estender.
Segundo o primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, da oposição anti-Síria, Mehlis lhe forneceu detalhes da investigação. Por esse motivo, decidiu intimar os ex-chefes de segurança, considerados ''suspeitos''.
Saad Hariri, filho do ex-premier assassinado e deputado proeminente, disse estar satisfeito à TV Al-Arabia:
- Esse é apenas o começo. Haverá mais detenções. O mais importante é saber quem matou Rafik Hariri - declarou.
Já o presidente preferiu subestimar as prisões, afirmando que todos são inocentes até que se prove o contrário. Lahoud, pró-Síria e acusado de cumplicidade na morte de Hariri, resistiu às pressões para que renunciasse. Ontem, defendeu Hamdan, classificando-o de funcionário leal que salvou sua vida em 1983, durante a guerra civil libanesa.
A equipe da ONU não tem permissão para prender os suspeitos, mas pode pedir que os serviços internos o façam. De acordo com a lei libanesa, os detidos só podem ser mantidos para interrogatório por 48h.
Na quinta-feira, o presidente sírio, Bachar al-Assad, afirmou estar disposto a ''continuar cooperando'' com a comissão investigadora:
- Nós estamos interessados pois estamos convencidos de que seremos reabilitados das suspeitas que pesam contra a Síria pelo assassinato de Hariri - declarou à revista alemã Der Spiegel na segunda-feira.
A CII se reuniu na sexta-feira em Genebra com oficiais sírios dos serviços secretos que serviam em Beirute no momento do atentado. O conteúdo das conversas, no entanto, não foi divulgado.
Rafik Hariri foi assassinado no dia 14 de fevereiro. A oposição anti-Síria considerou o ataque obra dos regimes sírio e libanês. A morte acelerou a desocupação das tropas sírias, que estavam no Líbano há 29 anos. Os últimos militares foram retirados em abril, em conformidade com a resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU.