O Estado de São Paulo, n. 46638, 26/06/2021. Política p.A12

 

Rejeição a Bolsonaro aumenta mais na periferia, mostra Ipec

Daniel Bramatti

 

Há um movimento generalizado de aumento da rejeição ao presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição. Pesquisas do instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) mostram que essa tendência é mais forte entre moradores de periferias e eleitores com baixa escolaridade e renda.

A comparação entre pesquisas feitas em fevereiro e em junho revela que, nas periferias das grandes cidades, a parcela do eleitorado que não admite votar em Bolsonaro em nenhuma hipótese aumentou de 53% para 67% – um salto de 14 pontos porcentuais em quatro meses. No eleitorado como um todo, essa taxa aumentou seis pontos, de 56% para 62%.

Outros segmentos em que a rejeição subiu acima da média são os dos eleitores que têm de cinco a oito anos de escolaridade, de 25 a 34 anos, que ganham até um salário mínimo e que são evangélicos. Muitos dos entrevistados se enquadram simultaneamente em mais de uma dessas características.

Quanto mais cresce a taxa de rejeição, mais baixo fica o teto potencial de votos de Bolsonaro. Se a eleição fosse hoje, o presidente seria praticamente inelegível, já que a maioria absoluta dos brasileiros diz que não votaria nele. Essas opiniões, porém, podem mudar com o tempo.

Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconteceu o oposto nos últimos quatro meses: sua taxa de rejeição caiu, de 45% para 39%. Os grupos em que o antilulismo retrocedeu mais são formados por eleitores que ganham de um a dois salários mínimos (15 pontos porcentuais), que vivem em cidades de menos de 50 mil habitantes (também 15 pontos) e/ou são da região Sul (13 pontos).

A pesquisa Ipec divulgada ontem mostrou Lula como favorito na disputa pelo Planalto, (49% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro). O levantamento apresentou ainda Ciro Gomes (PDT) com 7%, João Doria (PSDB) com 5% e Luiz Henrique Mandetta (DEM) com 3%.

O Ipec é formado por ex-executivos do Ibope Inteligência e usa a mesma metodologia do antigo instituto. Na pesquisa, feita entre 17 e 21 de junho, foram entrevistados presencialmente 2.002 eleitores em 141 cidades. Os responsáveis pela pesquisa usaram equipamentos de segurança e foram orientados a manter distância segura dos entrevistados. A margem de erro estimada é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

 

Porcentual

67%

dos entrevistados moradores das periferias das grandes cidades afirmaram que não vão votar no presidente Jair Bolsonaro em 2022 – crescimento de 14 pontos porcentuais em quatro meses.

 

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Centro enxerga 'derretimento' do presidente.


Pesquisa Ipec mostra que apenas 13% do eleitorado rejeitam hoje votar tanto em Lula quanto em Bolsonaro

 

A pesquisa do instituto Ipec divulgada ontem pelo Estadão indica o desafio para a viabilização de uma terceira via que seja alternativa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro. Os partidos que dizem se opor aos dois candidatos mais bem colocados no levantamento apostam agora em um "derretimento" ainda maior de Bolsonaro – por essa avaliação, apenas o petista tem potencialmente vaga assegurada em um eventual segundo turno.

O Ipec mostrou que apenas 13% do eleitorado rejeita votar tanto em Lula quanto em Bolsonaro. Esses eleitores se distribuem entre os que hoje se mostram inclinados a votar em Ciro, Doria e Mandetta. A soma das intenções de voto no ex-presidente e no atual é de 72% – ou seja, quase três em cada quatro brasileiros têm como preferido um dos polos da disputa. São números que mostram pouco espaço para uma candidatura alternativa, ao menos neste momento.

O reforço da polarização também vem sendo apontado por especialistas. "A alternativa de centro – legítima, por natureza – não se consolidou até agora. A soma de preferência dos nomes de centro – Ciro, Doria, Mandetta – não chega aos 23% de Bolsonaro; ou seja, os dados dessa última pesquisa cravam a polarização entre Lula e Bolsonaro", disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP.

Todos os políticos do chamado centro ouvidos pelo Estadão têm a mesma aposta na queda da popularidade de Bolsonaro. "Hoje, as pessoas têm a percepção de que apenas Lula é a alternativa de oposição a Bolsonaro. À medida em que essa candidatura de terceira via ficar clara, esse apoio vai migrar do Lula", alega o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que quer filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para concorrer à Presidência. Hoje sem partido, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) diz que "cabe alguém no lugar de Bolsonaro no segundo turno".

"A pesquisa pressiona quem está em dúvida a defender o impeachment de Bolsonaro e também pela unidade em torno do pedido. Também diminui a base de sustentação do presidente", avaliou o presidente do Cidadania, Roberto Freire.