O Estado de São Paulo, n. 46638, 26/06/2021. Internacional p.A18

 

Assassino de Floyd pega 22 anos e meio de cadeia

 

Ex-policial que sufocou homem negro em Minneapolis, em maior de 2020, presta condolências à família antes do anúncio da sentença

 

O ex-policial de Minneapolis Derek Chauvin, condenado pelo assassinato do negro George Floyd, foi sentenciado ontem a 22 anos e 6 meses de prisão. O crime provocou a maior onda de protestos contra a injustiça racial nos EUA em várias décadas. Chauvin rompeu ontem mais de um ano de silêncio e falou brevemente no tribunal antes de ouvir sua sentença: "Quero dar minhas condolências à família de Floyd".

Antes dele, promotores e membros da família também se manifestaram e pediram que a sentença aplicada fosse a máxima. Os promotores tinham pedido uma pena de 30 anos de prisão contra o ex-policial de 45 anos que, em 25 de maio de 2020, sufocou George Floyd com seu joelho até matá-lo, desencadeando uma mobilização antirracismo em todo país e em outras partes do mundo.

"Ele cometeu um assassinato brutal, traumatizou a família da vítima e provocou um choque na consciência do país", disseram os promotores, em documentos divulgados antes da audiência. A lei do Estado de Minnesota estabelece uma sentença mínima de 12 anos e 6 meses de prisão para Chauvin, que está detido desde 20 de abril, quando foi declarado culpado de homicídio não intencional de segundo grau, homicídio de terceiro grau e homicídio culposo. A sentença foi determinada pelo juiz Peter Cahill, que identificou circunstâncias agravantes.

O magistrado considerou que Chauvin abusou de sua posição de confiança e de autoridade, que tratou Floyd com especial crueldade diante de menores e cometeu o crime com a participação ativa de pelo menos outros três policiais. Ele pode ser libertado após cumprir 15 anos de prisão por bom comportamento.

"Esta sentença histórica leva a família Floyd e nossa nação um passo mais perto da reconciliação ao permitir virar a página e apontar os responsáveis", disse o advogado da família, Ben Crump. O presidente americano, Joe Biden, disse ontem que a sentença de Chauvin "parecia apropriada".

 

Violência. Durante todo o julgamento, Chauvin usou seu direito de se manter em silêncio e não manifestou arrependimento, nem pediu desculpas por seus atos. Há exatos 13 meses, o ex-policial e três colegas prenderam Floyd, de 46 anos, sob a suspeita de que ele teria usado uma nota falsa de US$ 20 em uma loja de Minneapolis. Ele foi algemado e imobilizado no meio da rua.

Depois, Chauvin se ajoelhou sobre o pescoço de Floyd durante quase dez minutos, ignorando os pedidos da vítima e das pessoas que passavam angustiadas. A cena, filmada com um celular e publicada nas redes sociais por uma jovem, rapidamente viralizou e desencadeou manifestações em diferentes partes do mundo.

O julgamento foi acompanhado de perto por milhões de pessoas nos EUA. Durante semanas, os depoimentos das testemunhas foram ouvidos novamente, e um grande número de policiais compareceu ao tribunal, em sua maioria para denunciar a atitude do ex-colega.

O advogado do ex-policial, Eric Nelson, afirmou que Chauvin seguiu os procedimentos policiais vigentes naquele momento e a morte de Floyd ocorreu por problemas de saúde agravados pelo consumo de drogas.

Os membros do júri não foram convencidos e levaram menos de dez horas para declará-lo culpado. A decisão foi recebida com alívio em todo país, pois muitos temiam que uma absolvição levasse a distúrbios em razão da isenção de responsabilidade de um policial branco, mais uma vez.

 

Extensão. Nelson não mudou sua estratégia de defesa e disse que seu cliente cometeu um erro de boa-fé. Solicitou uma sentença reduzida ao tempo já cumprido, o que permitiria que seu cliente fosse solto imediatamente. Ele também alertou para o risco de que Chauvin, encarcerado após o anúncio do veredicto em uma penitenciária de alta segurança, seja assassinado na prisão.

No entanto, o caso não termina com Chauvin. Seus três excolegas serão julgados pela Justiça de Minnesota em março de 2022 por cumplicidade no homicídio. Paralelamente, os quatro homens também enfrentam acusações federais por violarem os direitos constitucionais de Floyd. Ainda não foi estabelecida uma data para esse julgamento./ AFP e EFE

 

Reação

"Esta sentença histórica leva a família Floyd e nossa nação um passo mais perto da reconciliação ao permitir virar a página e apontar os responsáveis"

Ben Crump

ADVOGADO DA FAMÍLIA DE GEORGE FLOYD