Título: Katrina espalha devastação
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Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, Internacional, p. A12

A passagem do furacão Katrina pelos estados de Louisiana, Mississippi e Alabama, na segunda-feira, transformou-se em uma catástrofe. A tempestade, que na semana passada atingira a Flórida, deixou pelo menos 70 mortos. Só no Mississippi foram 55, 30 deles refugiados em um prédio que desabou em Biloxi, onde o olho do furacão passou.

- O número de mortos deve chegar a centenas - alertou o porta-voz governamental, Vincent Creel. - O Camille matou 200, acho que vai ser bem mais - completou, referindo-se ao furacão que em 1969 atingiu o Mississippi e a Louisiana, matando 256 pessoas. Ontem, dezenas de americanos continuavam ilhados nas áreas mais afetadas de Louisiana - 700 haviam sido resgatados durante a madrugada. Em Gulfport, na costa, a força do vento de 233 km/h, arrastou prédios de três andares como se fossem de brinquedo. Pontes e estradas também foram destruídas.

- A devastação é maior do que nossos piores temores. É uma tragédia de grandes proporções - afirmou a governadora Kathleen Blanco.

- Foi o nosso tsunami - comparou, por sua vez, o prefeito de Biloxi, H. J. Holloway, referindo-se ao maremoto que em dezembro matou mais de 226 mil pessoas no Sudeste Asiático.

O corpo de bombeiros recebeu várias chamadas alertando para a presença de corpos boiando na inundação. Alguns podiam ser vistos no meio da rua. A ordem é não recolhê-los por enquanto. No ar, helicópteros passaram o dia resgatando pessoas em telhados, rodeadas por uma enchente de 9m de altura. Onde o nível da água cedeu, equipes da polícia marcam com um C em vermelho as casas ou os escombros onde há corpos localizados.

A porta-voz da Cruz Vermelha de Biloxi, María Yabrudi, contou que várias mortes ocorreram nas estradas, em acidentes ou causadas por árvores e outros objetos pesados jogados pela ventania.

- A volta para casa vai demorar. A paciência é prioridade - afirmou o diretor da organização, Michael Brown.

Em Nova Orleans, o Katrina deixou bairros inteiros submersos. Não há energia, comida e água potável. Além disso, os abrigos também serão esvaziados, pois as condições na cidade são ruins. Nas ruas, o clima é quase de pânico. Policiais pesadamente armados tentam impor uma lei marcial a fim de impedir que os saques aumentem, mas a situação, segundo testemunhas, está ''fora de controle''. A Guarda Nacional criou um comando especial com 1.600 homens apenas para atuar na área afetada.

A prioridade, para a governadora, é o salvamento dos habitantes ilhados, que podem estar passando fome e sede.

- Muitas pessoas morreram, mas ainda não temos idéia de quantas. Nosso foco continua no resgate dos sobreviventes.

De acordo com o prefeito de Nova Orleans, 80% da área urbana estavam ontem sob metros de água. A situação ainda pode piorar com o rompimento de dois diques no lago Pontchartrain, cujo nível está acima da cidade. Foram constatadas duas fissuras na estrutura. A calamidade foi de tal monta que conseguiu fazer com que o presidente George Bush antecipasse em dois dias o fim de suas férias no Texas.

- Sabemos que muitos estão ansiosos para voltar para casa. Mas não é possível por enquanto. Nada deve ser feito sem a autorização das autoridades - pediu.