Título: Vale usará carvão para queimar custo
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2005, Economia & Negócios, p. A21

O aumento nos custos de transmissão e de distribuição de energia elétrica levou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) a estudar a possibilidade de utilizar carvão mineral no abastecimento de suas futuras expansões. De acordo com o presidente da empresa, Roger Agnelli, levantamentos iniciais apontam que a construção de termelétricas à base do insumo seria uma alternativa mais econômica para a companhia produzir energia.

- Com os custos atuais de energia, grandes consumidores, como nós, têm de ir onde a energia é mais barata: ou busca plantas fora do país ou busca energias alternativas. Esta fonte pode ser o carvão, mercado em que estamos entrando em países como Austrália, Venezuela, Moçambique e China. Vamos tentar fazer uma operação logística que garanta que o carvão chegue aqui a preços competitivos - diz Agnelli, acrescentando que o gás natural ainda ''não está a todo o vapor''.

Segundo Agnelli, o carvão já é competitivo frente ao preço de energia praticado hoje no país. A vantagem das térmicas frente às hidrelétricas estaria na possibilidade de instalá-las nas proximidades da unidade de produção da Vale, eliminando os altos desembolsos com transmissão - que, segundo Agnelli, supera os de geração em alguns casos.

Agnelli, que participou ontem da inauguração da hidrelétrica Risoleta Neves, construída no município de Rio Doce (MG) em parceria com a Novelis, confirmou que a CVRD não tem mais interesse em continuar no consórcio para a construção da hidrelétrica de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. A empresa detém 40% de participação no projeto, que prevê a geração de 855 MW. Também fazem parte do consórcio a CPFL (com outros 40%) e a CEE (com mais 20%).

- Estamos em busca de algum interessado para vender nossa participação. Em Chapecó, os custos de construção subiram, os gastos com indenização de meio ambiente se elevaram e os gastos com transporte da energia até o Sudeste tornaram o preço da energia inviável - argumenta.

Outro projeto que ficou acima do estimado pela Vale é o da hidrelétrica de Estreito, em Tocantins, previsto para sair do papel no ano que vem.

- O consórcio está avaliando o que vamos fazer. Esta hidrelétrica é importante, mas está difícil tocar projetos de energia no Brasil.

Apesar do desencanto com as hidrelétricas, Roger Agnelli não descarta a possibilidade de a empresa participar dos futuros leilões de energia nova, desde que os projetos fiquem próximos às unidades da CVRD.

A meta da Vale é chegar a 2010 com 50% de auto-suficiência em energia elétrica, que poderão vir por meio de hidrelétricas ou termelétricas. Atualmente, a empresa produz pouco mais de 10% de seu consumo, que é de 260 mil MW médios. Com a inauguração das unidades de Aymorés (ES) e Capim Branco I e II, que deve ocorrer em 2006, a produção vai chegar a 20% do consumo.