O Estado de S. Paulo, n. 46637, 25/06/2021. Política, p. A7
Patriota afasta presidente favorável à filiação de Bolsonaro
Lauriberto Pompeu
Uma convenção nacional do Patriota decidiu ontem afastar por 90 dias Adilson Barroso da presidência do partido. A convenção foi convocada pelo vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, que agora assume o comando de forma interina. A mudança ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro negocia a filiação à legenda.
Barroso é a favor da entrada de Bolsonaro no partido e Resende, contra. Aliados do presidente haviam dito que ele planejava se filiar no Patriota até o fim deste mês. “Adilson Barroso foi afastado por 90 dias, podendo haver prorrogação justificada de mais 90 dias. Nosso quórum é legítimo”, disse Resende.
Barroso afirmou, porém, que a convenção não tem efeito. Ele disse que, como presidente do partido, já determinara a nulidade da reunião logo que foi publicado o edital de convocação no Diário Oficial da União, na semana passada. “Não tem fundamento. Então, não necessita nem mesmo a gente entrar na Justiça”, disse. “A reunião deles, além de não ter fundamento jurídico e estatutário nenhum, ainda faz um ato de expulsão. É como se um funcionário de uma empresa juntasse cinco ou seis e fizesse uma expulsão de outro funcionário, sem o patrão querer.”
A articulação de Bolsonaro para se filiar ao Patriota e controlar diretórios estratégicos deflagrou uma guerra entre correligionários. Barroso, por exemplo, já promoveu duas convenções com o objetivo de abrir caminho para a filiação de Bolsonaro, mas uma ala contesta a validade dos encontros.
A convenção de ontem é a terceira em menos de um mês. Resende disse ao Estadão que Bolsonaro exige o comando dos diretórios em São Paulo, Rio e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do País.
Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, o presidente procura uma sigla para abrigar sua candidatura a um novo mandato, em 2022. Tentou montar o Aliança pelo Brasil, mas a empreitada não conseguiu o número mínimo de assinaturas para o registro da sigla no TSE.
Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), que se filiou ao Patriota no final de maio, disse ontem que o partido vive uma briga interna sem fim. “Infelizmente, uma ala minoritária do Patriota não entendeu a magnitude da chegada de um Presidente da República ao partido”, escreveu Flávio, em nota. “Convenção ilegal convocada por eles, sem previsão no estatuto e que é um verdadeiro tiro na cabeça deles mesmos. Fui para o Patriota antes de todo mundo para arrumar a casa e é o que vamos fazer”, afirmou o senador.
Imbróglio
“Nosso quórum é legítimo”
Ovasco Resende
Presidente Interino do Patriota
“Não tem fundamento”
Adilson Barroso
Presidente afastado