O Estado de S. Paulo, n. 46637, 25/06/2021. Política, p. A9

Novo ministro é tido como ‘aberto’, ligado a ruralistas e à preservação

José Maria Tomazela


O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, de 46 anos, tem mais relação com a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, do que seu antecessor, Ricardo Salles. Atuando na área privada, Pereira Leite desenvolveu projetos de preservação da floresta, mas também assessorou ruralistas. A dúvida dos que o conhecem é se, no ministério de Jair Bolsonaro, ele conseguirá fazer valer sua experiência em preservação florestal ou se dobrará à linha do “um manda e o outro obedece”.

Há dez anos, quando era diretor da MRPL Consultoria, o goiano Pereira Leite participou de projetos de manejo florestal sustentável e de créditos de carbono na Amazônia. Em um desses projetos, conheceu a engenheira florestal Janaína Dallan, uma das especialistas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. “Fizemos um projeto de preservação da floresta há mais de dez anos e ele foi uma das pessoas envolvidas”, lembra Janaína.

O agora ministro atuou também como conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) – a bancada ruralista, com mais de 200 deputados e senadores, tem dado suporte ao governo de Bolsonaro. Em 2019, ele foi atuar no Departamento Florestal do Ministério. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável, depois substituída pela da Amazônia e Serviços Ambientais.

Foi quando Janaína retomou o contato com Pereira Leite. “Ele queria manter um canal aberto com as empresas voltadas à preservação da floresta na Amazônia. Estava interessado em ajudar para que houvesse mais projetos de preservação”, disse. Como secretário, Leite integrou a comissão de preservação do Conselho Nacional da Amazônia Legal.

‘Mais aberto’. Segundo Janaína, o novo titular do Meio Ambiente é pessoa mais aberta que seu antecessor, gosta de conversar e entender o que está acontecendo. “Salles já devia ter caído há muito tempo. Ele tinha uma postura de pouca preocupação com a floresta, até favorável ao desmatamento, como se viu. Mas era também muito fechado.” Em comparação, ela diz que “o Joaquim é mais acessível, busca entender um pouco mais sobre preservação da floresta. Sabe que pode ser importante inclusive para trazer negócios para o Brasil, de mercado de carbono, de pagamento por serviços ambientais. É a diferença mais impactante, que nos deixa com esse fundo de expectativa de que possa melhorar”.

Mas essa expectativa, segundo a engenheira florestal, é “um pouco controvertida”. Joaquim “está no governo, atua juntamente com Bolsonaro. O Brasil perdeu o protagonismo ambiental, teve muito retrocesso com o desmatamento explodindo, batendo recordes. A gente tem essa parte que é muito ruim, pois o governo não vem desenvolvendo um bom trabalho nessa questão. Há uma certa expectativa porque o Joaquim entende um pouco mais, tentou realizar bons projetos, mantém diálogo aberto com as empresas. Mas tem o alinhamento político, que é preocupante”, completa a engenheira florestal.

Formado em Administração de Empresas, em Marília, o sucessor de Salles tem, em família, uma pendência de certo modo ligada ao seu trabalho: uma disputa desde os anos 1980 com a Funai, e com pouco mais de 500 indígenas, pela ocupação de uma área no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Em 2014 o TRF-03 suspendeu uma reintegração de posse e manteve os indígenas na área. A família Pereira Leite recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça.