Título: Apesar dos juros, expansão acelera
Autor: Sabrina Lorenzi e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

Desempenho da indústria puxa avanço de 1,4% do Produto Interno Bruto no segundo trimestre

RIO e SÃO PAULO - Embalado pelo salto de vários segmentos da indústria, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país) cresceu 1,4% no segundo trimestre na comparação com os primeiros três meses do ano, quando a economia avançou apenas 0,4%. O resultado, já previsto por especialistas, foi obtido mesmo em um ambiente de taxa básica de juros elevada - a Selic subiu de 19,25% para 19,75% no período - e acentuou o movimento de revisão para cima das expectativas de expansão para 2005. No acumulado do ano, o PIB avançou 3,4% em relação ao primeiro semestre de 2004.

A indústria apresentou expansão de 3% no período, superior ao 1,1% da agropecuária e 1,2% do setor de serviços. No trimestre anterior, a produção nas fábricas havia sofrido um recuo de 0,8%.

Do lado da demanda, o destaque ficou por conta da indústria de bens de capital (máquinas industriais) e da construção civil. A formação bruta de capital fixo (leia-se investimentos) avançou 4,5% entre abril e junho, depois de forte recuo no primeiro trimestre do ano - de 3,6% - e nos últimos três meses de 2004 - de 2,9%. Segundo o IBGE, o aumento dos investimentos reflete projetos de infra-estrutura e a retomada da construção civil. A compra de bens de capital disparou 25%. A construção civil cresceu 3,7% no segundo trimestre, ante 0,6% no primeiro trimestre.

- Não é muito em relação às taxas da indústria, mas o peso da construção civil no PIB é grande e faz diferença - avalia Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

Ainda pela demanda, a economista chama atenção para o empurrão do mercado interno no PIB. As exportações continuam em alta, com aumento de 2,6%, mas a taxa está sendo anulada pelo desempenho das importações, em alta de 2,4%. O consumo das famílias expandiu-se 0,9%, depois de cair 0,2% no trimestre anterior. O consumo do governo cresceu 1,1%, depois de parco 0,3%.

- Desta vez, o setor externo praticamente não contribuiu para o crescimento. Quase todo o crescimento veio do setor doméstico, principalmente dos investimentos - analisa Rebeca.

No semestre, o crescimento de 3,4% se deve sobretudo ao petróleo, que acumulou 17,8% de aumento.

Por subsetores, o IBGE destaca o crescimento do Comércio (4%), dos Transportes (3,9%), dos Aluguéis (3,2%), das Instituições Financeiras (3,1%) e da Administração Pública (2%) - na comparação com o segundo trimestre de 2004. Por outro lado, Comunicações foi o único subsetor de serviços a apresentar queda (-2,3%).

Para a economista Cecília Hoff, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os investimentos cresceram e puxaram a economia, mesmo em um ambiente de juros altos, graças ao recuo da inflação.

- Com a inflação menor, caem as expectativas para a taxa de juros no mercado futuro. O empresário, ao olhar esse dado, se sente mais confiante em investir - explica Cecília. - Além disso, o investimento teve um forte impulso da construção civil. Acredito que o setor tenha feito estoque de aço, no ano passado, à espera de uma alta no preço. Esse estoque foi todo usado no primeiro trimestre, o que derrubou o desempenho do segmento. Agora, com o fim dos estoques, a construção civil voltou a comprar aço e empurrou a expansão.

A Associação Brasileira de Indústria de Base (Abdib) não demonstrou entusiasmo com a expansão do setor. ''Quando inserido no cenário mundial, fica evidente que o Brasil ainda precisa ganhar músculos. Precisa começar a perseguir o crescimento dos países emergentes, muito maior que o verificado por aqui nos últimos anos'', alerta a entidade, lembrando que a China continua a manter taxas de crescimento médio acima de 9% por trimestre há dois anos. Para a Abdib, é necessário que o país eleve os investimentos em capacidade de produção, infra-estrutura e inovação.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que o crescimento do PIB e da indústria são ''positivos e auspiciosos''.

- Os dados nos autorizam a manter a previsão de que o crescimento do PIB será superior a 3% e o desempenho da indústria poderá ficar próximo a 5% neste ano - avaliou.

Mas o crescimento não deve ter continuidade nos próximos trimestres, avalia o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida. Para ele, a expansão do crédito foi o principal impulso ao consumo das famílias e, por conseqüência, do PIB. Almeida acredita, ainda, que o avanço dos investimentos é decorrente de um ''represamento'' dos investimentos por conta do aperto monetário.

A economista Cecília Hoff, da UFRJ, também vê um horizonte de desaceleração.

- O crescimento se deu em uma base de comparação muito baixa. No próximo trimestre, não terá tanta força.

Com Viviane Monteiro