Título: Câmbio causa prejuízo ao BC
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. A19
Dólar recua puxado por crescimento da economia. Ibovespa se destaca entre as aplicações em agosto
A apreciação do real frente ao dólar foi a principal responsável pelo prejuízo de R$ 11,616 bilhões do Banco Central nos primeiros seis meses do ano. Em igual período de 2004, a autoridade monetária havia lucrado R$ 2,6 bilhões.
Segundo o diretor de Administração do BC, João Antonio Fleury, como o Banco Central tem ativos em dólar, o resultado foi afetado pelo câmbio. Fleury disse que o impacto da valorização do real nas contas do banco foi de R$ 9,3 bilhões nas contas do banco.
Ontem, na esteira do resultado do Produto Interno Bruto do país, que cresceu acima do esperado, o dólar caiu ainda mais. A moeda americana fechou em queda de 1,13%, cotada a R$ 2,358, menor patamar em dez dias úteis.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também recebeu bem a notícia sobre o crescimento econômico nacional e subiu 1,6%, com 28.044 pontos e volume de R$ 1,9 bilhão. Além disso, o Ibovespa esteve entre as melhores aplicações de agosto.
O índice rendeu 7,69% aos investidores no mês passado, enquanto o CDI (referência para fundos DI e de renda fixa) teve ganho de 1,65%. O dólar, que chegou a ter picos de alta em meio a denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recuou 0,92% em agosto.
Dentro do mercado de ações, há ainda os investidores que ganharam acima do Ibovespa. Quem aplicou nos papéis da Petrobras, por exemplo, não tem do que reclamar. A ação PN da empresa disparou quase 20% no mês - boa notícia para quem aplicou parte de seu FGTS na estatal.
Apesar de o mercado de ações ter dado o melhor retorno do último mês, os fundos atrelados aos juros são o destaque no ano. Com as altíssimas taxas praticadas no país, os fundos DI (que carregam títulos que acompanham os juros) têm rentabilidade média de 12,48% em 2005. A Bovespa tem alta de 7,06% no ano. Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que também são favorecidos pelos juros altos, deram retorno de até 12,47% no ano.
O avanço de 1,4% do PIB no trimestre, no entanto, não traz apenas boas notícias. Ontem, a Merril Lynch divulgou que o resultado pode reduzir o ritmo de queda da taxa básica de juros, atualmente em 19,75% ao ano. A expectativa da corretora ficou de acordo com o observado no mercado. Ontem, as projeções futuras para os juros oscilaram entre a estabilidade e pequenas altas nos contratos negociados na BM&F. No Depósito Interfinanceiro que vence no meio de 2006, por exemplo, a taxa variou de 18,41% para 18,44%.
Mas, de forma geral, o resultado do PIB foi bem recebido pelos analistas.
- Gostei dos números, vieram um pouquinho acima do esperado, já que a crise deixa as previsões mais pessimistas - disse Roberto Troster, economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
Na última pesquisa do Banco Central com instituições financeiras, divulgada anteontem, a previsão média do mercado para a expansão do PIB doméstico no ano foi mantida em 3%.
- A média das previsões deve subir um pouco - disse Troster, que, no entanto, manteve sua previsão de crescimento entre 3,5% e 4% para este ano.
Para Adalto Lima, economista-chefe do banco West LB, a retomada dos investimentos mostra a confiança positiva dos empresários.
- Essa recuperação dá a percepção de que a oferta e a demanda vão crescer de forma sustentada - ressaltou.