O Estado de S. Paulo, n. 46638, 26/06/2021. Política, p. A10

'É lógico que vai abrir inquérito', afirma Bolsonaro sobre Covaxin

José Maria Tomazela


Pela primeira vez desde que foram reveladas suspeitas sobre a compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que vai mandar apurar a denúncia. "É lógico que vai abrir inquérito", disse, ao ser questionado se a Polícia Federal investigaria o suposto esquema de corrupção denunciado pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Bolsonaro não deixou claro, porém, se estava se referindo à própria denúncia ou ao parlamentar. "Olha a vida pregressa desse deputado", disse aos jornalistas, durante evento em Sorocaba, interior de São Paulo.

Por várias vezes, ele afirmou também que "o fato não foi consumado", ou seja, a compra não se efetivara. O governo, entretanto, fechou um contrato de compra de 20 milhões de doses do imunizante indiano, no valor de R$ 1,6 bilhão. O valor não foi pago, mas chegou a ser empenhado (reservado formalmente no orçamento). "Me acusam agora de corrupção. Não recebi uma p... de vacina. Não paguei um centavo e só falam em corrupção." Ele também citou casos de corrupção em governos anteriores como antítese de sua gestão. Citando Ceagesp, BNDES, Petrobrás e a "compra de papéis na Venezuela", afirmou antes de seu governo "era só roubalheira".

O contrato da Covaxin, o único firmado por meio de uma empresa intermediária, não com o próprio fabricante, já é alvo de investigação do Ministério Público Federal e da CPI da Covid. "Qualquer idiota identificaria um possível superfaturamento de 1.000%. Outra, tem algum recibo meu para ele? Foi ato consumado?", disse o presidente, repetindo o mesmo argumento.

"Estou aqui com o prefeito ao meu lado. Prefeito (Rodrigo Manga, do Republicanos), vamos supor que alguém aqui no teu município queira superfaturar alguma coisa em 1.000%. Qualquer idiota vai ver, meu Deus do céu. Não dá para perceber que tem coisa esquisita aí?".

Futebol. À tarde, Bolsonaro foi à Chapecó, oeste de Santa Catarina, e visitou as obras de reforma da Arena Condá, estádio de futebol utilizado pela Chapecoense. A visita foi marcada pelo tom de campanha: Bolsonaro desfilou com o corpo todo fora do carro, dispensou o uso da máscara e causou aglomerações. A apoiadores, pediu para engrossarem a "motociata" que vai realizar hoje na cidade.

Chapecó está em toque de recolher desde segunda-feira, com fechamento total do comércio, parques e praças das 10 da noite às 5 da manhã, devido ao aumento nos casos de covid19. Mesmo assim, Bolsonaro tirou a máscara que usava ao sair da parte interna e pisar no gramado do estádio. Ele posou para fotos com jogadores do sub14 e bateu três pênaltis, até fazer um gol.

À noite, o presidente, que dormiria na cidade, se encontraria com empresários dos setores agroindustrial, metalomecânico, moveleiro, têxtil, de turismo e transportes da região. Hoje, Bolsonaro vai participar de mais uma "motociata" organizada pelos clubes de motociclistas da região.