O Estado de S. Paulo, n. 46641, 29/06/2021. Internacional, p. A10

Atestados de vacina falsos se espalham por Moscou



Demorou apenas algumas horas para os fraudadores russos começarem a agir depois que o prefeito de Moscou anunciou que a vacinação será obrigatória para os funcionários do setor de serviços da cidade. Sites anunciando a disponibilidade de certificados falsos repentinamente pipocaram, com avisos nas redes sociais para quem se identificasse como trabalhador de restaurantes ou bares.

Em Moscou, um novo mercado paralelo nasceu com uma clientela potencial: os muitos russos que ainda hesitam em ser vacinados, mesmo em meio a um aumento nos casos de coronavírus. Um barman, que forneceu ao The Washington Post uma cópia de suas mensagens privadas no Instagram, enviou uma consulta a uma das contas que anunciava o custo de um certificado de vacinação falso. A resposta foi imediata: o preço era o equivalente a cerca de US$ 25 e o barman só precisava fornecer suas informações pessoais. Ele falou sob anonimato, em razão do caráter ilegal da operação.

O aumento no número de pessoas vendendo certificados de vacinação falsos ocorre após Moscou ordenar que 60% dos trabalhadores que interagem com o público – professores, motoristas de táxi, vendedores e outros – sejam vacinados ou consigam empregos diferentes. Seus empregadores estão sujeitos a pesadas multas por descumprimento. 

Limitações. As novas regras, que entraram em vigor ontem, também exigem que restaurantes e bares limitem a admissão de pessoas com um código QR confirmando a vacinação ou um teste de PCR negativo para coronavírus nos três dias anteriores. As autoridades de Moscou alertaram ainda que os hospitais negarão atendimento médico de rotina aos não vacinados.

As medidas extraordinárias – Moscou agora tem uma das regras de vacinação mais rígidas da Rússia – decorrem da incapacidade das autoridades de controlar a pandemia, apesar de duas vacinas nacionais, lideradas pela Sputnik V, que estão amplamente disponíveis e gratuitas. A última onda de covid19 também mostra como a hesitação em tomar as vacinas ameaça prolongar a pandemia em todo o mundo.

Apenas 15% dos moradores de Moscou foram vacinados, disse o prefeito Sergei Sobyanin no dia 16. A taxa de imunização em toda a Rússia é ainda mais baixa, 11,5% – menor do que em qualquer outro lugar na Europa, exceto a Macedônia do Norte, segundo o Our World in Data. Os EUA vacinaram totalmente mais de 45% de sua população. Mas a pressão de Moscou para vacinar seus cidadãos deixou muitos insatisfeitos.

Temor. Algumas pessoas dizem que têm mais medo de serem vacinadas do que de contrair o coronavírus. Isso torna a compra de um certificado de vacinação falso uma opção atraente para tentar burlar o sistema.

"Tenho festejado desde o verão passado e interagido com muitas pessoas, incluindo algumas que tiveram covid-19", disse Anna, uma estudante universitária de 23 anos que só quis dizer o primeiro nome. Ela havia pensado em comprar um certificado de vacinação falso, mas desistiu, pois tem medo de ser pega agora que os esquemas estão em evidência. As autoridades de Moscou iniciaram 24 processos criminais contra fornecedores de certificados de vacinação falsos e detiveram vários entregadores que levavam os produtos aos clientes.

Em meados de junho, havia 500 novos nomes de domínio na internet registrados para a venda de certificados de vacinação falsos, de acordo com a Forbes. Os certificados também são vendidos no aplicativo de mensagens Telegram.

O prefeito de Moscou disse que cerca de 90% dos novos casos da capital são da variante Delta, a cepa indiana. As infecções na cidade, de cerca de 12 milhões de habitantes, aumentaram para mais de 8,5 mil por dia neste mês, com 114 mortes em 24 horas relatadas no domingo em Moscou, um recorde de um único dia para a cidade.

O "crescimento explosivo", como disse Sobyanin, levou a novas restrições que tornarão quase impossível para os não vacinados trabalhar na maioria dos lugares ou comer em qualquer restaurante.

Mais de uma dúzia de regiões da Rússia seguiram o exemplo de Moscou ao impor alguns padrões de vacinação obrigatórios. Como os resorts de Sochi, popular destino de verão no Mar Negro, que estarão fechados para veranistas que não tiverem sido vacinados a partir de 1.º de agosto. / WP

Sem preocupação

"Tenho festejado desde o verão passado e interagido com muitas pessoas, incluindo algumas que tiveram covid-19"

Anna

Universitária de 23 anos